Hackers: chegou o sexto poder?


Hackers do Anonymous se escondem por trás da máscara do filme 'V de Vingança'


Depois da imprensa e dos blogs, serão os hackers a nova dor de cabeça para os políticos e as grandes corporações?

Por Hugo Souza

Foi lançada no último sábado, 30, mais uma rede social na internet, a Anon+ (anonplus.com). Mas este não é um site de relacionamento qualquer. Ele tem, digamos, um “modelo de negócio” diferente. Trata-se da rede social do coletivo hacker Anonymous, que tem no currículo ações como o roubo de 1 gigabyte de documentos secretos da Otan e a invasão da rede da ManTech Internacional, prestadora de serviços para o Departamento de Defesa dos EUA, só para ficar nas notícias dos últimos 15 dias.

Qualquer semelhança de denominação entre a Anon+ e o Google+, a rede social da gigante do Vale do Silício, não é mera coincidência. A decisão de criar a rede social hacker foi tomada pelo Anonymous após o grupo ser banido do novo site de relacionamento da Google. A justificativa para a expulsão foi a de que o perfil do Anonymous vinha sendo usado para compartilhar conteúdo que infringia as regras do serviço.

A criação de uma rede social por um grupo de foras da lei 2.0 que têm no anonimato um dos seus maiores trunfos pode parecer uma contradição. Mas a Anon+ é na verdade mais um passo do ativismo hacker em sua escalada de confrontos com governos e grandes corporações. Depois da imprensa e dos blogs, ditos quarto e quinto poderes por causa do contraponto que exercem aos poderes republicanos constituídos, chegou a vez dos hackers, o “sexto poder”?

Efeito WikiLeaks

Até pouco tempo a idéia de gênios da computação metendo o bedelho em questões de política e poder estava um tanto limitada à imagem quase anedótica de hackers de olhos puxados e uniformizados digitando sem parar em alguma grande central secreta de ciberguerra localizada nos arredores de Pequim. É mais ou menos isso o que se podia – e ainda se pode – supor ante os recorrentes comunicados do governo dos EUA após violações de suas redes civis e militares dizendo que “aparentemente os ataques partiram da China”.

O próprio Anonymous até há poucos anos era mais conhecido por suas pelejas contra a Igreja da Cientologia. O poder hacker ganhou impulso e expressividade política – e, logo, passou a incomodar mais – na sequência da prisão do fundador do WikiLeaks, Julian Assange, e do cerco ao site que vazou documentos secretos sobre as guerra do Iraque e do Afeganistão e segue publicando despachos diplomáticos das representações consulares norte-americanas ao redor do mundo.

Reação dos poderes ‘analógicos’

Após a prisão do fundador do WikiLeaks, hackers desencadearam a “Operação Vingar Assange”, da qual a ação que mais repercutiu foi o ataque ao site PayPal, em represália à suspensão das contas de contribuição à organização de vazamentos de documentos secretos.

No Brasil, chegou a causar sensação de pânico a série de ciberataques a sites do governo em junho. Mas se os hackers parecem dispostos a não deixar passar em branco o que consideram “abusos” dos poderes militar, civil e empresarial – tudo à sua maneira pirata de agir – tampouco os poderes constituídos parecem dispostos a deixá-los impunes: o FBI acaba de prender 14 membros do Anonymous acusados de participar dos ataques ao PayPal e o departamento de Defesa dos EUA acaba de anunciar que o país passará a tratar a internet como zona de guerra.

Por enquanto, o caráter político de organizações hackers como o Anonymous e o LulzSec não é algo consolidado. Ainda não se sabe ao certo qual é a cara deste poder emergente que se esconde por trás da máscara do filme “V de Vingança”. O fenômeno hacker se transformará em algo mais do que a anarquia das invasões .coms e .govs e da busca por fama e dinheiro, constituindo-se em força de enfrentamento coerente aos poderosos do mundo? Por enquanto o Pwnies, o “Oscar dos hackers”, vai apenas e simploriamente para quem causar mais prejuízo.

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