UM ÍCONE MENOSPREZADO - O silêncio do Ocidente em relação a Liu Xiaobo

Liu Xiaobo é um ativista pela democracia que é comparado a Nelson Mandela (Foto: Flickr/Nancy Pelosi)

Liu Xiaobo é um nome pouco conhecido no Ocidente. Porém, para aqueles na China que lutam por democracia e contra o Partido Comunista ele era um ícone. Preso em 2009 e solto em junho deste ano por questões médicas (Liu sofria de câncer terminal no fígado), ele morreu na última quinta-feira, 13, por falência múltiplas dos órgãos.

Liu representou uma luta calma, digna e persistente pela liberdade para a população chinesa. Tal fato colocou Liu como um dos proeminentes ativistas dissidentes, ao lado de figuras como Andrei Sakharov e Nelson Mandela. Assim como eles, Liu foi preso por sua ideologia e recebeu um Prêmio Nobel da Paz.

Liu passou seus últimos dias deitado na cama de um hospital no nordeste da China. O governo chinês negou à família de Liu o pedido para buscar tratamento no exterior. Guardas foram colocados para vigiar seu leito e um verdadeiro exército de censores trabalha para apagar da internet chinesa qualquer conteúdo sobre o ativista. Sua família recebeu a ordem de ficar em silêncio. O Partido Comunista quer que o mundo esqueça Liu e o que ele defendia. E há o perigo de que isso aconteça.

Um jogo de cinismo

O Ocidente tem o histórico de dar respostas tímidas à China pelo cruel tratamento que o país dá aos seus dissidentes. Em 1980, quando a China começou a se abrir para o mundo, os líderes ocidentais estavam tão ávidos por seu apoio contra a União Soviética que fizeram pouco barulho em relação aos seus prisioneiros políticos. Afinal, por que incomodar um líder reformista como Deng Xiaoping com o assunto?

A atitude do Ocidente mudou em 1989, quando Deng reprimiu de forma brutal a manifestação por democracia na Praça da Paz Celestial, que resultou em milhares de mortes. Repentinamente virou moda julgar a prisão de dissidentes. Claro que o fato de a União Soviética já estar em colapso àquela altura ajudou.

Na década de 1990, o comércio exterior da China entrou no ápice, e novamente os dissidentes e presos políticos foram marginalizados pelos líderes ocidentais. Aos olhos dos governos ocidentais, a China estava se tornando rica demais para ser incomodada. Tal fato se agravou após 2008, quando a crise econômica fez do comércio com a China uma esperança para muitos países. Essa tendência segue até hoje, tendo em vista que no recente encontro do G20 nenhum líder sequer mencionou o nome de Liu Xiaobo.

Hora de falar firme

Há boas razões para o Ocidente se unir para endurecer as críticas à China. Primeiro, porque a China depende do comércio, mesmo os acordos com os menores países fazem diferença. Segundo, porque a crítica pública desafiaria a crença do presidente chinês Xi Jinping de que prender dissidentes é normal. O silêncio apenas o encoraja a prender mais ativistas.

E vale lembrar que, para aqueles que arriscam tudo pela democracia, saber que têm o apoio do Ocidente é um grande impulso, mesmo que isso não garanta sua liberdade ou mude seu destino.

Há também um princípio vital em questão. Nos últimos anos, há muito debate na China sobre se os valores humanitários são universais ou específicos de cada cultura, como pensa Jinping. Manter o silêncio sobre Liu e sua trágica morte sinaliza que o Ocidente concorda com Jinping.The Economist

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