CONFLITOS ÉTNICOS

Federalismo étnico da Etiópia é posto à prova

A implementação do federalismo étnico causou problemas desde o início (Foto: Twitter)

Durante séculos a cidade de Harar, na região leste da Etiópia, foi um santuário, com o povo protegido por uma grande muralha que cercava a cidade, até ser anexada pelo império etíope no final do século XIX. Harar recuperou a independência em 1995, quando se tornou uma das nove regiões étnicas semiautônomas da Etiópia. Hoje, é pacífica e próspera e, desde o mês passado, mais uma vez é uma cidade sagrada.

Nas últimas semanas, milhares de etíopes procuraram refúgio nas áreas em torno de Harar, fugindo da violência nas cidades vizinhas.Quase 70 mil pessoas buscaram abrigo a leste da cidade. Centenas estão em um acampamento a oeste. A maioria é da etnia oromo, o maior grupo étnico da Etiópia. Nos meses de fevereiro e março, os confrontos entre os oromos e os somalis resultaram em centenas de mortes. Em setembro, um novo conflito causou a morte de mais de 30 pessoas na cidade de Awaday. Os assassinatos por vingança, muitas vezes cometidos por milícias locais ou por policiais, aumentaram o número de mortes e o exército teve de intervir para reprimir a violência.

Os confrontos étnicos são comuns na Etiópia, sobretudo entre os oromos e os somalis, que compartilham áreas na fronteira do país. Desde a introdução do federalismo étnico em 1995, as disputas por terras e recursos naturais, em geral apoiadas por políticos locais, causam tensão.

Quando a Frente Democrática Revolucionária Popular da Etiópia (EPRDF) assumiu o poder em 1991, após uma violenta guerra civil que se prolongou por 15 anos, o federalismo foi uma forma de conciliar as reivindicações dos movimentos de libertação étnica.

Mas a implementação do federalismo causou problemas desde o início. As novas carteiras de identidade obrigaram as pessoas a escolher uma etnia, embora muitos etíopes pertençam a diversas etnias. As divisões territoriais também provocaram conflitos. Na região de Harari, a minoria étnica harari governa grupos majoritários de oromos e amharas, uma fonte de ressentimento constante.

Durante anos, o EPRDF tentou atenuar a tensão controlando rigorosamente a política regional. Porém, os governos locais fortaleceram-se. Os políticos regionais têm programas de governo voltados para as etnias. Os líderes de Oromia, a maior região do país, redigiram um projeto de lei, com o objetivo de mudar o nome, o governo e a língua oficial da capital Adis Abeba localizada em sua região.

Os políticos na região Somali ignoram os abusos cometidos pelas milícias locais e pelo grupo paramilitar Liyu. O líder local “tem uma agenda expansionista consistente”, disse um diplomata ocidental.

O federalismo foi a única opção ao ser introduzido em 1995. Mas agora alguns sugerem diminuir o destaque de sua característica étnica. Segundo Christophe Van der Beken, professor da Universidade de Serviço Civil da Etiópia, “a ênfase na diversidade étnica prejudicou a unidade do país. O desafio agora é unificá-lo”.The Economist

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A surpreendente cratera de Xico

Por que não enxergamos estrelas verdes ou roxas?

Egípcia posa nua em blog e provoca indignação