RETORNO DAS ASSINATURAS

‘New York Times’ e ‘Washington Post’ driblam a crise no jornalismo

Notícias falsas nas redes sociais mostraram que as notícias verdadeiras têm um custo (Foto: Pexels)

Às vezes parece uma cena da década de 1970, quando os jornalistas competiam para conseguir notícias importantes antes dos outros nas redações do New York Times e do Washington Post. Só que agora os jornalistas apressam-se a publicar notícias sobre escândalos que envolvem a Casa Branca e o presidente Donald Trump. E os furos de reportagem não são mais publicados na edição da manhã, e sim em mensagens postadas no Twitter ou nos iPhones quase no final do dia.

Assim como antes, os dois jornais voltaram a ter assinantes. Depois de anos publicando notícias online sem custo para os leitores e demitindo pessoal, agora a receita das assinaturas, sobretudo digitais, do Times e do Post é maior do que a dos anúncios.

O trabalho de atrair assinantes é minucioso. O jornal precisa explorar o mercado nacional e internacional de milhões de pessoas de língua inglesa e transformar uma fração delas em leitores, que pagam para ter acesso ao conteúdo do jornal. Mark Thompson, diretor executivo do New York Times, acredita que o número atual de 2 milhões de assinantes aumentará para 10 milhões, com as novas assinaturas digitais.

Esse entusiasmo diante de um novo momento é justificável. Nos últimos 20 anos, os jornais americanos perderam quase 40% de sua circulação diária, com apenas 35 milhões de exemplares no ano passado, de acordo com o Pew Research Center. As receitas anuais de publicidade diminuíram 63%, o equivalente a US$ 30 bilhões, nos últimos dez anos. A partir de 2006, o número de demissões atingiu 40% dos jornalistas e editores.

Em uma atitude semelhante à da indústria automobilística de Detroit antes da entrada dos japoneses no mercado de automóveis, os jornais pré-internet, com lucros regulares e um público fiel, perderam o dinamismo e o caráter inovador. Alguns jornais como o Philadelphia Inquirer e o Baltimore Sun, sem se preocuparem com a possível perda de assinantes, tinham despesas altas com escritórios no exterior pagas com a receita dos anúncios. Agora, estão lutando para sobreviver em razão da queda do número de leitores. As cadeias de jornais, algumas administradas por fundos de investimento, mantêm os lucros elevados com a demissão de jornalistas.

O Times e o Post não passaram incólumes pela crise. Mas o Times dobrou o número de seus assinantes digitais em menos de dois anos. O Post aumentou o número de assinantes digitais em dez meses e agora tem mais de 1 milhão. A receita do Times caiu mais de 20% em três anos e chegou a menos de US$1,6 bilhão em 2009. A previsão para este ano é de uma receita acima de US$1,6 bilhão devido às assinaturas digitais.

O Post também estava em uma situação financeira extremamente difícil antes de Jeff Bezos, o CEO da Amazon, comprá-lo em 2013. Embora o jornal não revele informações sobre receitas e lucros, segundo o editor Fred Ryan este ano será o mais rentável em uma década. O Wall Street Journal obteve mais de 300 mil assinaturas digitais do início do ano até junho, mas uma queda acentuada na publicidade diminuiu a receita em 6% na Dow & Jones, uma divisão da News Corp., o conglomerado de mídia de Rupert Murdoch, que comprou o jornal em 2007.

Como os jornais conseguiram se recuperar? As primeiras tentativas de atrair assinantes digitais, com a criação de sistemas de bloqueio de acesso às edições digitais a não assinantes foram criticadas, com o argumento que a internet oferecia conteúdo gratuito. Como alguém poderia atrair assinantes digitais se o público tinha um acesso ilimitado online?

Em 2011, o Times introduziu um sistema de bloqueio parcial, no qual os não assinantes tinham acesso a uma cota mensal de matérias do jornal, depois teriam a opção de se tornarem assinantes. Hoje, esse sistema é padrão no jornalismo, apesar das controvérsias na época.

Além dessa estratégia para conquistar assinantes, com a eleição de Donald Trump os jornais têm uma fonte diária de notícias, algumas vezes em vários momentos do dia. Os ataques do presidente Trump ao Times e ao Post – “o fracassado New York Times”, “mais notícias falsas do Washington Post” – ajudaram a atrair leitores. Além disso, as notícias falsas compartilhadas nas redes sociais mostraram que as notícias verdadeiras têm um custo.The Economist

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