CINEMA

Lou – Uma mulher à frente do seu tempo

Interpretada por quatro diferentes atrizes, Lou foi bem representada na produção (Foto: Divulgação)

Lou Andraes-Salomé foi uma grande pensadora russa do final do século XIX e início do século XX, que morreu em 1937 na Alemanha. O filme Lou, dirigido pela alemã Cordula Kablitz-Post, conta a história desta psicanalista e filósofa, que foi pioneira na área, assim como um importante ícone do feminismo.

Interpretada por quatro diferentes atrizes ao longo de sua vida, Lou foi bem representada na produção pelas artistas que pareciam ter enorme prazer em apresentar tudo que a pensadora fez. Nenhuma delas deixou a desejar ao dar vida à personagem, conseguindo transparecer todos os sentimentos a cada cena.

A direção também acerta ao ambientar bem o filme à época, já utilizando a sequência inicial para demonstrar que o longa iria se passar em um momento no qual a Europa estava sob forte influência do nazismo e, por isso, muitas obras literárias foram perdidas, com as grandes fogueiras para queima dos livros perpetrada pelo regime.

Dito isto, Cordula nos leva a uma viagem no tempo ao longo da vida da escritora, que aparece aos seis anos de idade já questionando seu pai sobre o porquê de seus sapatos serem diferentes de seus cinco irmãos homens. Em sua adolescência, uma das cenas mais emblemáticas, que resume toda a luta da pensadora contra as amarras sociais, quando, dentro da igreja, questiona sobre os ensinamentos que estavam sendo passados.

Com passagens rápidas de tempo da infância, adolescência, vida adulta e a velhice, a diretora nos direciona para o foco principal: a dedicação de Lou aos estudos, suas crenças e seus ideais, sempre buscando aprender, escrever e lecionar.

Lou explora o diálogo com os outros personagens para ditar o tom filosófico do filme, seja com a pessoa que a iniciou no mundo dos estudos, indicando-a os pensadores gregos para iniciar as suas pesquisas; ou com o biógrafo, que ouvia cuidadosamente a sua história aos 72 anos da autora, e também compartilhava um pouco de sua vida.

Paralelo a isso, a produção mostrou a influência e o relacionamento que Lou teve com outras grandes figuras da mesma época, como Friedrich Nietzsche, Paul Rée, Rainer Maria Rilke e Sigmund Freud, mesmo que o último, apesar de importante, tenha sido pouco explorado.

Em relação ao seu contato com outros grandes pensadores, Cordula “derrapa” na direção, mas nada que pudesse prejudicar a qualidade da produção. Isso porque, ao longo de todo o filme, a diretora mostra Lou como uma mulher forte, determinada, com ideais feministas, à frente do seu tempo, não descansando antes de conquistar tudo o que deseja.

Por outro lado, em diversos momentos o filme passa uma imagem, através dos olhos e diálogos dos outros personagens, de uma mulher egoísta, que só levava em conta os seus próprios sentimentos, que queria sempre as coisas do seu jeito e não compreendia o que acontecia a sua volta. Além disso, ao focar tanto nesses relacionamentos, esqueceu-se um pouco de falar mais sobre as obras de Lou, sobre suas conquistas como uma mulher que sempre esteve na vanguarda da luta pelos seus desejos.

No fim, através de palavras escritas em uma tela preta, a diretora Cordula resolve contar a história que deixou de fora da produção, falando mais sobre a vida e as obras de Lou, dando, inclusive, detalhes pós-morte, como a luta para deixar eternamente a memória da grande pensadora viva.Henrique Schmidt

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