CRISE HUMANITÁRIA

Crise de saúde mental ameaça crianças rohingyas

Pelo menos 30% da população de refugiados é menor de cinco anos (Foto: Mohammad Ghannam/MSF)

Dos mais de 650 mil rohingyas que fugiram de Mianmar para Bangladesh desde o final de agosto, cerca de 380 mil são menores de idade, de acordo com a ONG Save the Children. Pelo menos 30% da população de refugiados tem menos de cinco anos de idade. Diante deste cenário, a ONG chama atenção para os danos que a situação crítica podem ter na saúde mental das crianças.

“O que estamos vendo é um cenário perfeito para uma crise de saúde mental para as crianças”, diz Lalou Rostroup Hodt, uma conselheira de saúde mental da Save the Children. Ela, que trabalha nos campos de refugiados há dois meses, diz que muitas crianças rohingyas vivem num estado constante de “luta ou fuga”, uma condição de estresse exacerbado que pode afetar a saúde mental.

A organização Médicos Sem Fronteiras estima que pelo menos 730 crianças rohingyas menores de cinco anos foram mortas em Mianmar entre final de agosto e final de setembro de 2016. A maioria foi morta a tiros, de acordo com uma pesquisa divulgada em dezembro. Cerca de 10% foram presas em casas incendiadas, enquanto 5% apanharam até a morte.

Apesar de os governos de Bangçadesh e Mianmar dizerem que vão começar um esquema de repatriação voluntária nas próximas semanas, há pouco entusiasmo entre os refugiados para voltar para região, onde ocorreu o massacre que foi chamado internacionalmente de limpeza étnica.

“Outras crises recentes aconteceram em lugares como o Congo, onde as crianças viram suas famílias serem mortas e suas mães serem estupradas. Mas a escala do que aconteceu com os rohingyas é muito maior do que foi visto em outros lugares. Nós não temos ideia de como estas crianças vão processar esse trauma”, disse Benjamin Steinlechner, porta-voz da Unicef, em Cox’s Bazar, em Bangladesh.

A Unicef diz que 7% das crianças nos campos estão severamente desnutridas. O percentual é três vezes pior do que em outras emergências humanitárias recentes. Para piorar, surtos de sarampo e difteria estão atingindo os campos superlotados, que agora abrigam mais de 800 mil rohingyas. Pelo menos 60% dos poços de água nos campos estão contaminados com material fecal das latrinas que foram cavadas muito perto das fontes de água.

Especialistas em Bangladesh se preocupam com algumas das escolas improvisadas, que recebem fundos de grupos extremistas locais e do Oriente Médio. Eles acham que tais escolas podem se tornar centros de radicalismo religioso e militância rohingya. No entanto, para muitas crianças rohingyas, uma vida estudando textos sagrados é além da imaginação. O trabalho infantil é o normal entre a etnia.
The New York Times



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