EUROPA APOSENTADOS

Brexit e a incerteza dos aposentados na Europa

A migração dos aposentados para o continente europeu ainda acompanha o processo de transição do Brexit (Foto: Pixabay)

Quesada, uma cidade na Costa Blanca da Espanha, foi construída para oferecer lazer aos moradores. Às três horas da tarde de sexta-feira, a atividade concentra-se nos terraços dos bares na rua principal. No alto da colina, os sócios do clube local de boliche relaxam entre as partidas. Um deles, Tony Goddard, um simpático gerente de construção civil aposentado, em uma pausa nos goles do uísque faz um gesto em direção ao Sol. “Por isso, estamos aqui!”

Durante anos, a perspectiva de morar em cidades com céu azul, custo de vida barato e boa comida atraiu os aposentados britânicos. Segundo o Department for Work and Pensions do Reino Unido, cerca de 340 mil aposentados vivem em países da União Europeia (UE). Muitos escolhem cidades na costa do Mediterrâneo, como Quesada. Com um estilo arquitetônico padrão, de colunas romanas e pórticos caiados de branco, descrito por JG Ballard, um escritor britânico, como “importado de Las Vegas após a venda de um hotel”, as cidades ensolaradas atraem os mais idosos.

Mas apesar do envelhecimento da população, o número de aposentados britânicos que vivem na Europa está diminuindo. Em 2005, a migração para os quatro principais destinos, França, Itália, Espanha e Alemanha, cresceu 8%. Em 2010, a taxa de crescimento caiu para 4,8% e, no ano passado, a taxa reduziu-se a apenas 0,9%.

Os fatores econômicos são o principal motivo dessa redução. Nos anos do boom econômico, de meados da década de 1990 a 2007, a moeda forte permitiu que “as pessoas tivessem um estilo de vida antes reservado a Mick Jagger em Mustique”, disse Andy Bridge, diretor-geral da empresa A Place in the Sun, uma imobiliária dedicada à venda de propriedades no exterior.

Em seguida, a crise financeira global atingiu duramente o mercado imobiliário dos países mediterrâneos. A partir de 2008, o preço médio de uma casa na Espanha teve uma redução de um terço. Os esqueletos de concreto espalham-se pela costa sul do país, uma lembrança de projetos abandonados durante a crise. Além disso, as economias em recessão não oferecem oportunidades para os que querem trabalhar em tempo parcial, como um meio de complementar a renda da aposentadoria.

As mudanças na economia britânica também tiveram um impacto negativo na migração dos cidadãos para outros países da UE. O aumento dos preços dos imóveis dificulta a saída dos jovens da casa dos pais. De acordo com o Office for National Statistics, 26% dos jovens entre 20 e 34 anos moram com os pais, em comparação com 21% em 1996. Essa dependência econômica impede muitas vezes que os pais realizem o projeto de morar no exterior.

Nos anos seguintes à crise financeira, os ingleses ficaram mais cautelosos. “Hoje, os compradores têm uma noção mais clara do que querem, de quanto podem pagar e por que desejam morar no exterior”, disse Bridge. Em uma pesquisa da YouGov para o banco HSBC, dois terços dos aposentados britânicos na Espanha citaram o custo de vida mais barato como um motivo da mudança, em comparação com apenas um quinto dos que haviam escolhido a França, não por razões econômicas, mas sim pela cultura e estilo de vida que os agradavam mais.

A migração dos aposentados para o continente europeu ainda acompanha o processo de transição do Brexit. Alguns desistiram de mudar para o exterior devido à depreciação da libra, que teve uma queda de 14% em relação ao euro desde o plebiscito de 2016. Outros não alteraram seus planos. Porém, o efeito de longo prazo da saída do Reino Unido da UE depende do resultado da pauta das negociações.

Em 15 de dezembro, um acordo preliminar garantiu a manutenção dos direitos sociais e trabalhistas, tanto dos cidadãos europeus residentes no Reino Unido quanto dos cidadãos britânicos que vivem em países da UE. Mas as negociações sobre o futuro da relação do Reino Unido com os países da zona do euro se prolongarão até o final do prazo da saída em março de 2019. Até lá, muitas mudanças poderão ocorrer.The Economist

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