VENEZUELA CRISE ECONÔMICA

Venezuelanos se arriscam em rio poluído em busca por comida

Estima-se que 75% dos venezuelanos perderam uma média de 8,7 quilos em 2017 (Foto: Flickr)

A crise na Venezuela parece não ter fim. É cada vez mais comum as imagens de venezuelanos desesperados em busca de alimentos no lixo e outros locais insalubres. É o caso de garimpeiros que entram na água suja do poluído Rio Guaire, em Caracas, capital do país, para tentar encontrar qualquer tipo de metal valioso para trocar por comida.

Um dos garimpeiros é Angel Villanueva, de 26 anos, que vai até as águas poluídas do rio na esperança de encontrar algum “tesouro”. O venezuelano passa a mão pelo fundo do canal, vira o rosto para fugir do mau cheiro da água suja, enquanto procura por qualquer metal precioso. O rio serve de dreno para os esgotos, chuva e resíduos industriais.

Paralelo a isso, Villanueva, junto com dois amigos, observa atentamente as nuvens escuras nas montanhas que cercam Caracas. Isso porque, caso comece a chover, os garimpeiros correm risco de morte devido à enxurrada.

“Desde que me lembro, o Guaire sempre foi esse esgoto a céu aberto. Certamente reflete a profundidade e a extensão do desespero que essa crise em particular gerou”, explicou o venezuelano Alejandro Velasco, professor de História da América Latina na Universidade de Nova York. Estima-se que 75% dos venezuelanos perderam uma média de 8,7 quilos em 2017 devido à dificuldade para conseguir comida.

Alguns garimpeiros enrolam a ponta dos dedos para se proteger contra cortes e possíveis infecções ou problemas de saúde, que podem ser gerados por estarem expostos durante muito tempo à água suja do rio. Os cheiros emitidos pela poluição se misturam. Enquanto alguns trechos do canal têm odores de esgoto, outros lembram algum tipo de combustível.

Em 2005, o então presidente venezuelano Hugo Chávez reconheceu o estado do rio, prometendo uma limpeza completa. O Banco Interamericano de Desenvolvimento, em 2012, concedeu um empréstimo de US$ 300 milhões, com um projeto de construção de usinas de tratamentos. Porém, em pleno ano de 2018, a água ainda continua suja. Os funcionários do banco, assim como os governantes venezuelanos, mantêm o silencio sobre a ineficácia em despoluir o Rio Gauire.

Em meados de 2017, durante um protesto contra o presidente Nicolás Maduro, manifestantes entraram na água suja do rio para fugir do gás lacrimogêneo disparado pela polícia.

Os garimpeiros do rio passam despercebidos por outros moradores de Caracas, que passam próximo ao canal em uma via expressa. Uma mulher empurrando um carrinho de bebê em um viaduto próximo enxergou dezenas de catadores na água e comentou: “Que vergonha para o nosso país”.

Villanueva vive em um dos bairros mais pobres e perigosos de Caracas, juntamente com seu pai, um militar aposentado, e ainda tenta superar a morte de sua mãe – que sonhava que o filho frequentasse a faculdade -, vítima de um acidente vascular cerebral. Angel sempre quis estar melhor financeiramente, mas só conseguiu empregos estatais de baixa remuneração.

O rapaz de 26 anos entrou no rio pela primeira vez há seis meses. Logo em seu primeiro dia, conseguiu US$ 20, e não parou mais de ir, mesmo com as provocações em seu bairro a respeito de seu cheiro devido ao rio. Villanueva sonha em deixar a Venezuela e conseguir um emprego melhor.G1

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