INTERNACIONAL INDUSTRIA

O assédio sexual na indústria têxtil

Os relatórios foram publicados durante a 107ª Conferência Internacional do Trabalho (Foto: Wikimedia)

De acordo com sindicatos e ativistas de direitos humanos, por causa da pressão para cumprir os prazos de entrega de mercadorias, as operárias das fábricas na Ásia que fornecem roupas para a Gap e a H&M são submetidas a assédio sexual e a maus-tratos físicos e verbais.

Mais de 540 operárias das cadeias de produção das duas redes de varejo descreveram incidentes em que foram ameaçadas e sofreram agressões, segundo dois relatórios publicados na última semana de maio pelo Global Labour Justice sobre violência baseada no gênero.

Os relatórios alegam que as acusações, registradas entre janeiro e maio deste ano em Bangladesh, Camboja, Índia, Indonésia e Sri Lanka, são resultado da pressão das mudanças rápidas nas tendências da moda e da redução de despesas.

Os relatórios foram publicados durante a 107ª Conferência Internacional do Trabalho promovida na primeira semana de junho pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) para combater o assédio e a violência no local de trabalho.

Tola Moeun, diretor da Central Cambodia, a ONG envolvida na pesquisa, disse que o ambiente hostil era uma realidade do dia a dia das operárias forçadas a cumprir as metas irrealistas da H&M e da Gap. “A maioria desses casos não é registrada por medo de retaliação no local de trabalho”.

Jennifer Rosenbaum, diretora do Global Labour Justice nos EUA, disse: “sabemos que a violência baseada no gênero é resultado da estrutura da cadeia de produção global. O modelo das cadeias de suprimentos da H&M e da Gap criou metas irrealizáveis de produção e contratos com valores abaixo do mercado. Em consequência, as mulheres trabalham horas extras sem remuneração e sob extrema pressão. Os sindicatos e diversos países concordam que o cumprimento das normas da convenção da OIT sobre violência baseada no gênero é essencial, apesar da oposição de alguns empregadores”.

Segundo um dos relatórios, a H&M tem 235 fábricas de vestuário na Índia que fornecem produtos para sua cadeia de suprimentos. Em uma discussão por causa de salários e condições de trabalho em uma fábrica em Bangalore, uma mulher disse aos pesquisadores que os supervisores haviam puxado seus cabelos e lhe dado um soco. Em seguida, disseram: “sua prostituta, o lugar de pessoas de sua casta é o mesmo onde se guardam os chinelos”.

Uma operária de outra fornecedora de produtos para a H&M disse aos pesquisadores que tinha sido espancada como castigo por não ter conseguido cumprir as metas de produção. “O supervisor da minha equipe aproximou-se enquanto eu trabalhava na máquina de costura e falou aos gritos, ‘você não está cumprindo suas cotas de produção’. Ele puxou a cadeira onde eu estava sentada e caí no chão. Depois me bateu inclusive em meus seios. Levantou-me, jogou-me de novo no chão e me chutou”.

Em uma fábrica que fornece roupas para a H&M em Sri Lanka, uma mulher queixou-se dos operadores das máquinas. “Quando pedimos aos operadores das máquinas que não toquem nelas ou que as peguem, eles se vingam. Às vezes eles nos dão máquinas que não funcionam corretamente, ou não atendem aos pedidos de consertos. Por isso, os supervisores nos repreendem por não cumprirmos as metas de produção”.

Outro caso aconteceu em uma fábrica que trabalha para a Gap na Indonésia, onde uma mulher disse que era chamada todos os dias de estúpida pelos supervisores, que a tratavam com desprezo por não ser rápida em seu trabalho e ameaçavam cancelar seu contrato.

“Eles também jogam objetos em cima de nós e chutam nossas cadeiras. Mas não nos tocam para não deixar marcas que possam incriminá-los na polícia”, acrescentou.

Segundo Debbie Coulter, da Ethical Trading Initiative (ETI), uma organização da qual a Gap e a H&M são membros, “essas acusações são extremamente preocupantes. A violência baseada no gênero é inaceitável sob qualquer circunstância e as empresas precisam garantir que as mulheres que trabalham em suas cadeias de produção estejam protegidas”.

“Esperamos que a H&M e a Gap investiguem essas denúncias e que trabalhem em conjunto com as fábricas para garantir que qualquer mulher que sofra agressões físicas ou verbais receba um tratamento especial como uma forma de compensar sua humilhação. A ETI manterá contato regular com seus membros e oferecerá apoio, sempre que necessário, a fim de encontrar soluções rápidas e eficazes para todas as funcionárias afetadas”.

Em um e-mail, a H&M disse ao jornal britânico Guardian que todas as formas de assédio ou maus-tratos eram contrárias aos seus princípios. “A violência contra as mulheres é uma das piores violações dos direitos humanos. A violência baseada no gênero ameaça a saúde, a dignidade e a segurança das mulheres. Por esse motivo, a empresa incentiva as iniciativas de fortalecimento dos direitos das mulheres no local de trabalho, como a convenção internacional contra a violência baseada no gênero, um tema de discussão na Organização Internacional do Trabalho”.

A Gap, por sua vez, afirmou seu compromisso com o bem-estar e a segurança dos funcionários das fábricas que fornecem produtos para sua cadeia de suprimentos.

“Temos a obrigação de garantir que as pessoas que fabricam as roupas de nossa marca trabalhem em condições seguras e sejam tratadas com respeito. Concentramos nossa base de fornecedores em parceiros que compartilham nossos valores e objetivos. Além disso, um número crescente de fábricas fornecedoras é auditado pelo programa Better Work, da Organização Internacional do Trabalho”.

“O Código de Conduta do Fornecedor da Gap, em sintonia com as políticas ambientais e de direitos humanos da empresa, proíbe qualquer tipo de discriminação. Realizamos avaliações periódicas de nossos fornecedores para garantir o compromisso deles com nossos princípios e, quando encontramos qualquer prática discriminatória ou retaliativa na cadeia de suprimentos, exigimos que os fornecedores tomem medidas imediatas para corrigi-la”.

“Na visão da Gap Inc, a violência baseada no gênero no local de trabalho é um tema de extrema importância e, portanto, sujeito à ação da OIT”.The Guardian

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