POLÊMICA IGREJA

O silêncio da Igreja Católica

O papa fez uma série de reuniões com os bispos chilenos (Foto: Flickr/ Presidencia de la República Mexicana)

Quando o Papa Francisco foi ao Chile em 15 de janeiro, ele enfrentou uma falta de entusiasmo da população, bem diferente da visita de João Paulo II, em 1987. O catolicismo vem diminuindo no país, mas isso não é exclusividade do Chile, ocorre na América Latina em geral.

O êxodo dos fiéis vem ocorrendo por conta das denúncias de abusos sexuais e de encobrimento dos casos. O assédio sexual a menores por membros do clero foi tema de protestos durante a visita do papa em janeiro. O principal acusado era Juan Barros, acusado por religiosos de esconder abusos cometidos por seu mentor, o ex-padre Fernando Karadima. Ele foi condenado em 2011 pelo Vaticano a uma vida de penitência e oração por seus crimes.

Membros da igreja do país já haviam alertado Francisco sobre as denúncias contra Barros em 2015, quando o papa o nomeou bispo de Osorno. A nomeação foi vista por muitos chilenos como um erro desastroso. Na visita ao Chile, Francisco havia respondido uma pergunta de um repórter, dizendo que o bispo Juan Barros permaneceria em seu cargo na diocese de Osorno porque não havia nenhuma evidência confiável contra ele.

No Chile, o papa defendeu Barros, qualificando as acusações como “calúnias”. Na época, um grupo de vítimas insistiu em se reunir com o pontífice para entregar-lhe provas dos abusos, mas o papa se recusou a recebê-las por acreditar na inocência dos religiosos.

Quando voltou do Chile, Francisco convocou o espanhol Jordi Bertomeu, oficial da Congregação para a Doutrina da Fé, e Charles J. Scicluna, arcebispo de Malta e um experiente perito do Vaticano, para capitanear as investigações sobre os supostos casos envolvendo Barros.

Em abril, o papa reconheceu ter cometido “graves erros de avaliação” sobre o caso, pediu desculpas e chamou as vítimas a Roma.

O papa fez uma série de reuniões com os bispos chilenos e na primeira delas entregou um documento particular de dez páginas, baseado no relatório de 2.300 folhas que seus enviados especiais ao Chile fizeram.

Um dos presentes vazou o documento para a imprensa. No documento, o papa confirmava mudanças e substituições na igreja chilena e falava de medidas “em curto, médio e longo prazo”.

Em maio, o papa recebeu o pedido de renúncia de toda delegação de bispos chilenos. Foi a primeira vez que aconteceu uma renúncia coletiva na história da Igreja Católica.

Em comunicado, os bispos afirmaram que vão continuar em suas funções até que o papa tome uma decisão. Agora, o papa precisa decidir se aceita todas as renúncias ou somente algumas delas. A duração deste processo pode demorar anos, se o papa decidir levar adiante uma depuração completa da Igreja chilena.

Situação na Austrália

Em maio, o arcebispo australiano Philip Wilson, 67, foi considerado culpado por acobertar casos de abuso sexual de padres. O dirigente da Arquidiocese de Adelaide desde 2001 é acusado de encobrir crimes do padre James Fletcher. Fletcher foi condenado em 2004 a oito anos de prisão por nove casos de abuso sexual de coroinhas nos anos 1970 em uma paróquia no Hunter Valley, no norte de Sidney. Fletcher sofreu um infarto e morreu em 2006.

Duas vítimas de Fletcher afirmam que contaram o crime a Wilson, que era padre assistente na paróquia e que ele não fez nada. Wilson se declarou inocente e diz não se lembrar das acusações. Ele foi diagnosticado com Mal de Alzheimer antes do julgamento. Ele vai continuar em liberdade até a divulgação da sentença final em 19 de junho.

A sentença foi divulgada três semanas depois da Justiça australiana acolher as acusações contra o cardeal George Pell, número 3 do Vaticano. Pell vai ser julgado por pelo menos duas acusações de abuso sexual, determinou a justiça australiana. Segundo a polícia,os casos ocorreram há mais de 40 anos.

Num artigo de opinião da Detsche Welle, Christoph Strack, acredita que será um longo caminho para o esclarecimento dos abusos sexuais e da tomada de consciência. “Os casos no Chile e na Austrália têm repercussão mundial e mostram como ainda é longo o caminho que a Igreja Católica adotou sob Bento XVI e Franscisco segue de forma ainda mais determinada desde 2013”, disse o articulista. “Mas especialmente o caso do Chile mostra como o esclarecimento caminha a passos lentos e sem vontade em muitas partes do mundo. Na maioria dos países católicos quase não há casos de abuso sexual vindo à tona, o que é, no mínimo, curioso”.DW

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