NO PARÁ DO AÇAÍ - FEV 901

Indígenas trabalham sob vigilância armada no Pará após 'conciliação' autorizada por STF
© Reuters Escoltados por homens armados, dezenas de parakanãs, povo de recente contato do Médio Xingu, trabalharam por um mês abrindo a golpes de facão uma picada na floresta. O objetivo dos fazendeiros que financiaram a iniciativa era traçar um limite e se apossar de 392 mil hectares da terra indígena Apyterewa, homologada pela Presidência da República em 2007. O pretexto foi uma decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes, que, em 2020, autorizou uma "conciliação" entre indígenas e invasores para reduzir Apyterewa. Em dezembro, o colunista do UOL Rubens Valente revelou que um grupo de caciques havia concordado em reduzir a área indígena em 50,7% dos 773 mil hectares demarcados há 15 anos. O acordo provocou contestação interna, principalmente das mulheres. O picadão seria a "nova divisa" com os não indígenas. Para convencer os parakanãs, um grupo de fazendeiros, entre os quais Adelson Costa, fez uma reunião com lideranças na aldeia Raio de Sol, à beira do Xingu. Ali os invasores argumentaram que a iniciativa seria benéfica aos indígenas e prometeram pagar diárias de R$ 250, segundo relatos à Folha sob a condição do anonimato. Cerca de 150 parakanãs trabalharam no picadão. Para chegar até o local, viajaram de canoa até a casa de uma ribeirinha. De lá, foram levados de camionete até a sede da fazenda de Costa, presidente de uma das associações dos invasores. Ali foram organizados em grupos de trabalho. Da fazenda, foram transportados até o local de abertura do picadão, em mata fechada. Em plena epidemia de Covid-19, eles trabalharam ao lado de posseiros. Os fazendeiros têm estimulado a chegada de centenas de novos invasores como forma de pressionar o governo a reduzir a terra indígena para acomodá-los. De acordo com os indígenas, guaxebas (jagunços) faziam a "segurança" no local, portando armas longas. A comida, insuficiente, não incluía carne, obrigando os parakanãs a caçar. No acampamento, também foi servida cachaça. Além disso, o pagamento da diária caiu para R$ 70. Muitos parakanãs começaram a desistir. Para voltar, no entanto, não havia mais transporte, e eles tiveram de percorrer os cerca de 70 km a pé até a beira do Xingu. Uma viagem que durou pouco mais de dois dias.FOLHAPRESS

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