INFLAÇÃO X DEFLAÇÃO

Por que a inflação nos países ricos é uma coisa boa...

A inflação nos países desenvolvidos aumentará com rapidez no início de 2017 (Foto: Pixabay)

A Alemanha, um país com fobia de aumento de preços, causou surpresa ao anunciar na primeira semana de 2017 um aumento da inflação. O índice subiu de 0,8% para 1,7% em dezembro. Depois de dois anos de pressões para manter os preços baixos, a inflação voltará a subir este ano nos países desenvolvidos. Em grande parte isso é resultado da queda do preço do petróleo, que atingiu menos de US$30 por barril nos primeiros meses de 2016, porém que subiu para mais de US$50 há pouco tempo. A inflação subjacente também irá aumentar. Essas são boas notícias. A previsão em 2017 é de uma inflação moderada, que atenuará os receios de uma deflação.

A explicação concentra-se na análise dos três principais fatores que impulsionam a inflação nos países desenvolvidos: o preço das importações, capacidade de pressão na economia do país e a expectativa do público. Há um ano, os preços dos bens de consumo caíram no mercado mundial devido à queda na demanda agregada e um excesso de oferta de commodities básicas e produtos manufaturados. A desaceleração da economia da China afetou a economia mundial. A crise econômica atingiu os países emergentes em geral; os dois maiores, Brasil e Rússia, estavam mergulhados em uma profunda recessão.

A situação melhorou. Os países emergentes ainda têm muitos problemas, mas a economia nos países mais desenvolvidos está se estabilizando. Por esse motivo, as importações aumentaram e, em consequência, o índice de inflação subiu. O efeito do seu impacto dependerá da taxa de câmbio. Mas na maioria dos países desenvolvidos os mercados de câmbio estão ajudando a afastar o temor da deflação. Nos Estados Unidos, onde a inflação subjacente está perto do dígito de 2%, a meta prevista pelo Federal Reserve, a cotação do dólar subiu. No Japão e na zona do euro, onde a inflação subjacente é menor, o iene e o euro enfraqueceram-se.

A segunda influência no aumento da inflação é a capacidade produtiva disponível da economia interna. A taxa de desemprego, uma avaliação da capacidade do mercado de trabalho, é um bom indicador. Neste sentido, a economia dos EUA com a taxa de desemprego de 4,7% está próxima de sua capacidade total de produtividade. A média salarial aumentou 2,9% em 2016, a maior taxa desde 2009. Com o pressuposto que o crescimento da produtividade fique em torno de 1%, a taxa de crescimento dos salários em cerca de 3% é coerente com um aumento de 2% nos custos unitários dos salários e com a meta de inflação do Federal Reserve.

O cenário é menos otimista em outros lugares do mundo desenvolvido. Os mercados de trabalho na zona do euro são mais rígidos e a oferta de empregos restringe-se com mais rapidez do que nos EUA. Além disso, a economia da zona do euro tem uma capacidade produtiva subutilizada maior. A taxa de desemprego é de 9,8%. Alguns países da zona do euro no sul da Europa, como Itália e Espanha, têm ampla capacidade disponível. Portanto, se o índice de inflação se aproximar da meta de 2% do Banco Central Europeu, outros países, sobretudo a Alemanha, terão de ter uma inflação bem acima de 2%.

Ao terminar o encaixe das peças do quebra-cabeça surge a seguinte imagem. A inflação nos países desenvolvidos aumentará com rapidez no início de 2017, em grande parte graças ao aumento dos preços do petróleo e a um cenário global mais estável. A inflação subjacente aumentará mais devagar, porque a tendência de crescimento elimina a capacidade produtiva disponível. Um aumento bem maior da inflação este ano pode criar um ambiente propício a reivindicações salariais mais ousadas no norte da Europa e no Japão em 2018.

Segundo analistas do JPMorgan Chase, as expectativas de taxas de inflação mais elevadas acrescentarão o percentual de 1% ao PIB nominal global em 2017, com o estímulo ao retorno dos lucros e criação de um cenário favorável à recuperação de gastos de capital, mesmo sem cortes de impostos nos EUA. Os analistas com frequência preveem resultados extremos, mas a inflação este ano nos países desenvolvidos será suficiente para dinamizar a economia, sem causar desequilíbrio.The Economist

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