ESPIONAGEM - Governo mexicano é acusado de hackear jornalistas e ativistas

Os links enviados aos alvos tinham relação com trabalho e até mesmo com a vida pessoal (Foto: Pixabay)

Anos atrás, o governo do México comprou um software de espionagem de uma empresa israelense. A ferramenta foi vendida sob a condição de que só seria usada contra terroristas e grupos criminosos. No entanto, uma denúncia apresentada à procuradoria-geral da República do país, diz que foram realizadas pelo menos 88 tentativas de invasão ilegal em telefones de 12 pessoas que investigavam o governo, entre janeiro de 2015 e julho do ano passado.

O México ocupa a pior posição no ranking regional de liberdade de imprensa, mas se o governo estiver realmente espionando a imprensa, a situação pode ser bem pior do que o imaginado. A espionagem foi revelada no New York Times e num relatório feito por várias organizações mexicanas e internacionais. O jornal e o relatório advertiram que não havia evidências conclusivas sobre a ligação do governo com a espionagem.

O software, chamado Pegasus, funciona de forma simples. O alvo recebe um SMS com um link que parece verdadeiro. No entanto, ele leva à instalação do programa de espionagem. Ligações, mensagens, e-mails, contatos e calendários passam a ser monitorados. Para piorar, o programa também consegue usar a câmera e o microfone do celular da vítima para vigilância.

A jornalista Carmen Aristegui e o ativista político Santiago Aguirre foram alguns dos alvos. Aristegui ajudou a revelar, em 2014, que primeira-dama mexicana, Angélica Rivera, recebeu benefícios na compra de uma mansão de uma empreiteira próxima ao presidente. Aguirre, por sua vez, investigava, à época, o desaparecimento de 43 estudantes de Ayotzinapa em 2014. Até hoje o caso dos alunos não foi solucionado.

Como resposta à denúncia do jornal, o diretor-geral de imprensa internacional na presidência do México, Daniel Millan, escreveu uma nota ao New York Times, afirmando que não há provas sobre a suposta espionagem praticada pelo governo. No entanto, é preciso lembrar que o Partido Revolucionário Institucional (PRI), do presidente Enrique Peña Nieto, tem um longo histórico de perseguição e intimidação de jornalistas.

A grande questão é que o software não deixa rastros do hacker que o utilizou. Seu fabricante afirma que não pode determinar exatamente quem está por trás da ação. Porém, o grupo israelense garante que é muito pouco provável que criminosos digitais tenham conseguido acessar o software, já que o programa só pode ser utilizado pelas agências governamentais que tenham a tecnologia instalada. Institutos especializados como Artículo 19, R3D e Social TIC analisaram as mensagens e comprovaram que a intenção era vigiar pessoas críticas ao governo.

Os links enviados aos alvos tinham relação com trabalho e até mesmo com a vida pessoal. Carmen Aristegui, por exemplo, recebeu um texto supostamente da embaixada dos EUA, que falava de um problema com seu visto. Aguirre recebeu uma mensagem sobre o caso dos estudantes. Familiares dos alvos principais também sofreram com as mensagens. A mulher do ativista anticorrupção Juan Pardinas recebeu uma mensagem com supostas provas de que seu marido tinha uma amante. A hashtag #GobernoEspía virou trending topic no Twitter na última segunda-feira, 19.The New York Times

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