Fumaça preta...já!

Guerra pelo poder no Vaticano

Com o papado envolvido em intrigas, começa a luta pela sucessão de Bento XVI

Poucas coisas irritam mais os membros do Vaticano do que as histórias que descrevem o papado como o coração secreto de uma conspiração global. O Cardinal Tarcisio Bertone, autoridade mais antiga do Vaticano e secretário de Estado do Papa Bento XVI, este mês acusou jornalistas de tentar imitar o escritor norte-americano Dan Brown em seu “absurdo” (e best seller) livro, O Código Da Vinci.

Entretanto, não foram os jornalistas que colocaram o mordomo papal, Paolo Gabriele, em uma cela de quatro por quatro metros quadrados, sob acusações de que ele teria vazado uma corrente de cartas confidenciais. Tampouco foram os jornalistas que, no dia seguinte, demitiram o chefe do Banco do Vaticano, Ettore Gotti Tedeschi, e publicaram uma declaração acusando-o de falhar em seu trabalho. Uma investigação da polícia italiana, na qual foram apreendidos os documentos de Ettore Gotti, trouxe o medo de mais escândalos. Desde então, Gotti tem dito temer pela sua vida.

Nas entrelinhas está uma intensa e ofensiva luta de poder para determinar a natureza do próximo papado, amplamente travada em torno de instituições financeiras do Vaticano. O Instituto para as Obras de Religião (IOR), nome formal do banco do Vaticano, não é estranho à controvérsia. Em 1980, o banco foi acusado de trapaça financeira e responsabilizado pela misteriosa morte de um proeminente banqueiro italiano Roberto Calvi. Agora, o banco do Vaticano busca limpar seu nome de envolvimento em lavagem de dinheiro.

Segundo o La Repubblica, um jornal italiano, um relatório do Conselho da Europa dá ao Vaticano um atestado de boas práticas em todos, menos oito de 49 critérios. Mais de dez avaliações negativas nestes critérios exporia o Vaticano ao risco de ser penalizado pela Autoridade de Informação Financeira, um órgão independente responsável pela supervisão de bancos.

Originalmente, Gotti Tedeschi foi introduzido no Vaticano com a bênção do Cardinal Bertone. Mas ele se opôs a uma nova lei, apoiada pelo cardinal, que estendia os poderes da Secretaria do Estado às custas da existência independente do órgão de supervisão de bancos, a Autoridade de Informação Financeira. A mudança criou outro padrão no Vaticano. Desde a sua volta, há seis anos, o Cardinal Bertone vem ganhando cada vez mais influência.

O eclesiástico Bertone, de 77 anos, não é um membro com acesso a informações privilegiadas. Ele era o braço direito do papa quando o então cardinal Joseph Ratzinger chefiou o departamento de apoio à doutrina ortodoxa. O resto de sua carreira foi dedicado ao clérigo pastoral. Alguns subordinados sentem-se ressentidos pela falta de experiência diplomática do ex-arcebispo.

Intrigas desse tipo não são incomuns no Vaticano. Contudo, o que torna esse conflito especial é o fato do cardinal Bertone se agarrar à máquina de controle financeiro. Ano passado ele tentou fazer com que o banco do Vaticano resgatasse da crise um renomado, porém endividado, hospital italiano. A recusa de Gotti Tedeschi anunciou o que veio a seguir. As cartas papais vazadas mostram também que o Cardinal Bertone tentou, sem sucesso, fazer com que o então arcebispo de Milão renunciasse ao cargo de controle da Universidade Católica da cidade.

Para consolidar ainda mais sua posição, o cardinal Bertone promoveu sócios próximos e ex-subordinados da região de sua antiga diocese em Genova e de sua terra natal, Piemonte. Bertone pôs um de seus ex-subordinados no comando do Tesouro do Vaticano e indicou outro para comandar o Banco Central (que não é o mesmo que o Banco do Vaticano). Um terceiro confidente de Bertoni foi eleito governador da cidade do Vaticano.

Essas promoções aumentaram as suspeitas dos críticos do cardinal Bertone de que ele estaria tentando formar a próxima conclave na assembleia de cardinais que irá eleger o próximo papa. Segundo outro documento vazado, o cardinal arcebispo de Palermo diz que o papa de 85 anos, Bento XVI, estará morto em novembro.The Economist

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