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Irã vive relação de amor e ódio com o Twitter

EFE/Joerg Carstensen

Enquanto a população do Irã é proibida de acessar o Twitter, os principais líderes do país não se preocupam em dar o exemplo e vivem quase uma relação de amor com a rede social.

Para acessar o Twitter na República Islâmica é preciso utilizar programas que burlam as restrições geográficas, conhecidos como VPN, mas, apesar das limitações, são muitos os iranianos que têm contas na rede social, incluindo próprio presidente, Hassan Rohani.

A situação dupla gera um contínuo debate entre os setores reformistas e conservadores da República Islâmica. Os conservadores se preocupam com a "infiltração ocidental" no país através das redes sociais, o que também provocou o bloqueio do Facebook e do YouTube.

Essa disputa, bem como a incongruência entre a censura e o uso da ferramenta pelas autoridades, pode ser encerrada graças aos esforços do novo ministro de Comunicação, o jovem Mohammad Javad Jahromi.

Ele anunciou recentemente negociações com o Twitter para "resolver os problemas" e desbloquear a rede social no Irã, uma decisão que, no entanto, depende do Conselho Supremo para o Ciberespaço, que inclui membros da ala mais conservadora do país.

"O Twitter não é um ambiente imoral que precise ser bloqueado", disse o ministro, que alegou que a censura adotada em 2009 ocorreu porque se considerava que a rede social tinha "interferido em assuntos internos do país".

Neste ano, redes sociais como o Twitter foram utilizadas em grande medida para convocar grandes protestos do Movimento Verde contra uma possível volta ao poder do ex-presidente ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad (2005-2013).

Apesar de seu papel no bloqueio do Twitter, Ahmadinejad abriu uma conta na rede social no início desse ano. O perfil @Ahmadinejad1956 tem mais de 34 mil seguidores e nela o ex-presidente se descreve em um estilo muito americano como marido, pai, presidente e prefeito.

Por sua vez, Rohani mantém dois perfis. Um, dirigido ao público internacional, onde escreve mensagens em inglês, e outro, para o público nacional, no qual tuíta em farsi.

Ambas as contas foram abertas em 2013, quando Rohani foi eleito pela primeira vez presidente do Irã. Quatro anos depois, o líder moderado tem 531 mil seguidores no perfil em farsi e 693 mil na conta em inglês.

Rohani expressou em vários de seus discursos sua oposição à censura na internet, ainda que atualmente não consiga ganhar essa batalha dos setores conservadores.

Após tomar posse para um segundo mandato em agosto, o presidente voltou a insistir que não é necessário "sacrificar a liberdade pela segurança".

Quem também tem perfil no Twitter é o chefe da diplomacia iraniana, Mohammad Javad Zarif. Uma das últimas mensagens do chanceler alertava os Estados Unidos que o acordo nuclear assinado entre o país e o Grupo 5+1 - EUA, Rússia, China, Reino Unido, França, mais Alemanha - não é negociável.

Até mesmo o líder supremo do Irã, Ali Khamenei, tem contas na rede social, com centenas de milhares de seguidores em perfis diferentes que publicam mensagens em farsi, inglês, árabe e francês.

Segundo um ativista iraniano com mais de oito mil seguidores no Twitter, que preferiu manter o anonimato, não faz "nenhum sentido" manter a censura sobre a rede social se os líderes a usam.

"Quase todos já aceitaram que as redes sociais têm uma forte influência na população e, portanto, não podem ser ignoradas", afirmou o jovem em entrevista à Agencia Efe.

"Nossas autoridades as usam tanto para se comunicar com os iranianos que escolheram esse meio para se relacionar com pessoas de outros países", completou o ativista.

Ainda que os líderes iranianos não possam se mostrar indiferentes ao Twitter, ele não quis avaliar se a censura terminará.

"Foram ditas muitas coisas contraditórias sobre esse assunto. De modo algum podemos prever o que vai acontecer", lamentou o jovem, ciente da importância para alguns setores do país de controlar qualquer fonte suscetível de "imoralidade ou subversão".EFE

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