CROÁCIA HISTÓRIA
Croácia não se afasta de passado pró-nazista, mas risca Tito da via pública
Ex-prisioneira do campo de extermínio de Jasenovac, na Croácia, deposita flores em homenagem às vítimas do nazismo. EFE/Antonio Bat.
Mais de 70 anos após o final da Segunda Guerra Mundial, a Croácia não consegue se distanciar do seu passado pró-nazista, ao mesmo tempo que a lembrança do líder antifascista croata Josip Broz "Tito" é gradualmente riscado da via pública.
A polêmica mais recente aconteceu quando as autoridades permitiram que os veteranos da unidade paramilitar HOS da guerra de independência croata (1991-1995) colocassem perto do antigo campo de extermínio de Jasenovac uma placa comemorativa com um lema fascista.
Só após repetidos protestos, o Governo conservador croata ordenou que a placa fosse retirada, mas permitiu também que a mesma fosse instalada em Novska, a poucos quilômetros de Jasenovac, onde durante a Segunda Guerra Mundial foram assassinados dezenas de milhares de judeus, sérvios e croatas antifascistas.
No centro da polêmica está o lema "Za dom spremni" (Astutos para a Pátria), saudação oficial do movimento pró-nazista Ustasha e o seu "Estado Independente Croata" NDH (1941-1945), e que a HOS utiliza nas suas insígnias.
O NDH e o seu partido único, a Ustasha, continuam inspirando até hoje nacionalistas croatas, tanto dentro como fora da Croácia.
A sua controversa saudação é ouvida frequentemente nos estádios de futebol e em manifestações ultranacionalistas na Croácia.
Mais de 3.000 monumentos antifascistas foram destruídos na Croácia desde que se estabeleceu como país independente em 1991, enquanto que as festas nacionais de "vitória sobre o fascismo" são pouco comemoradas.
Em protesto pelo que consideram uma tolerância oficial do revisionismo neo-ustasha, as associações de judeus, sérvios e antifascistas boicotam desde o ano passado a comemoração oficial no ex-campo de concentração de Jasenovac.
Para o famoso diretor de cinema, Rajko Grlic, "este fedor do passado putrefato é o que leva hoje muitos jovens ao êxodo em massa deste país".
Só este mês, as autoridades de Zagreb eliminaram o nome de Tito da principal praça da cidade, depois que várias outras decidiram mudar de nome as ruas que lembravam o falecido líder iugoslavo.
"Os neo-ustashas tiraram a placa com o nome de Tito da praça mais bonita de Zagreb, que foi o principal símbolo antifascista da cidade", lamentou Grlic em declarações à Agência Efe.
O autor de vários filmes antinacionalistas, com prêmios internacionais, lembra nesse sentido que os ustashas "foram mais cruéis e sangrentos que seus mestres do Terceiro Reich".
A própria presidente croata, Kolinda Grabar-Kitarovic, causou certo mal-estar público ao dizer que "Za dom spremni" é apenas "uma antiga saudação croata, lamentavelmente comprometida pelos ustashas".
Inclusive especialistas de tendência direitista e ultranacionalista concordaram em que se trata de uma saudação idealizada e inventada pelos próprios ustashas.
Diante da dificuldade que parecem ter muitos políticos croatas, sobretudo os de centro direita, no Governo e na presidência atualmente, com o legado ustasha, crescem as vozes que pedem uma proibição dos seus símbolos.
"Não vejo outra solução legal a não ser a que a Itália está adotando, ou seja, a de proibir todos os símbolos nazi-fascistas, incluindo os ustashas", disse à Efe Zarko Puhovski, professor de História na Faculdade de Filosofia de Zagreb.
Mas no seu lugar, o Governo croata formou uma "Comissão para o enfrentamento do passado", que proporá medidas a respeito dos símbolos "de todos os regimes totalitários".
Isso faz uma aparente referência não apenas aos ustashas, mas também aos partisanos e comunistas.
Para muitos analistas croatas, trata-se apenas de uma nova tentativa de "mitigar" ou "limpar" o caráter criminoso do regime ustasha, equiparando suas ações com as dos partisanos e comunistas.
"Mas é provável que isto não vá acontecer, segundo o que indicam as decisões de tribunais europeus e a prática nos países da União Europeia, com a possível exceção da Hungria e da Polônia, conclui Puhovski.Vesna Bernardic.EFE
Ex-prisioneira do campo de extermínio de Jasenovac, na Croácia, deposita flores em homenagem às vítimas do nazismo. EFE/Antonio Bat.
Mais de 70 anos após o final da Segunda Guerra Mundial, a Croácia não consegue se distanciar do seu passado pró-nazista, ao mesmo tempo que a lembrança do líder antifascista croata Josip Broz "Tito" é gradualmente riscado da via pública.
A polêmica mais recente aconteceu quando as autoridades permitiram que os veteranos da unidade paramilitar HOS da guerra de independência croata (1991-1995) colocassem perto do antigo campo de extermínio de Jasenovac uma placa comemorativa com um lema fascista.
Só após repetidos protestos, o Governo conservador croata ordenou que a placa fosse retirada, mas permitiu também que a mesma fosse instalada em Novska, a poucos quilômetros de Jasenovac, onde durante a Segunda Guerra Mundial foram assassinados dezenas de milhares de judeus, sérvios e croatas antifascistas.
No centro da polêmica está o lema "Za dom spremni" (Astutos para a Pátria), saudação oficial do movimento pró-nazista Ustasha e o seu "Estado Independente Croata" NDH (1941-1945), e que a HOS utiliza nas suas insígnias.
O NDH e o seu partido único, a Ustasha, continuam inspirando até hoje nacionalistas croatas, tanto dentro como fora da Croácia.
A sua controversa saudação é ouvida frequentemente nos estádios de futebol e em manifestações ultranacionalistas na Croácia.
Mais de 3.000 monumentos antifascistas foram destruídos na Croácia desde que se estabeleceu como país independente em 1991, enquanto que as festas nacionais de "vitória sobre o fascismo" são pouco comemoradas.
Em protesto pelo que consideram uma tolerância oficial do revisionismo neo-ustasha, as associações de judeus, sérvios e antifascistas boicotam desde o ano passado a comemoração oficial no ex-campo de concentração de Jasenovac.
Para o famoso diretor de cinema, Rajko Grlic, "este fedor do passado putrefato é o que leva hoje muitos jovens ao êxodo em massa deste país".
Só este mês, as autoridades de Zagreb eliminaram o nome de Tito da principal praça da cidade, depois que várias outras decidiram mudar de nome as ruas que lembravam o falecido líder iugoslavo.
"Os neo-ustashas tiraram a placa com o nome de Tito da praça mais bonita de Zagreb, que foi o principal símbolo antifascista da cidade", lamentou Grlic em declarações à Agência Efe.
O autor de vários filmes antinacionalistas, com prêmios internacionais, lembra nesse sentido que os ustashas "foram mais cruéis e sangrentos que seus mestres do Terceiro Reich".
A própria presidente croata, Kolinda Grabar-Kitarovic, causou certo mal-estar público ao dizer que "Za dom spremni" é apenas "uma antiga saudação croata, lamentavelmente comprometida pelos ustashas".
Inclusive especialistas de tendência direitista e ultranacionalista concordaram em que se trata de uma saudação idealizada e inventada pelos próprios ustashas.
Diante da dificuldade que parecem ter muitos políticos croatas, sobretudo os de centro direita, no Governo e na presidência atualmente, com o legado ustasha, crescem as vozes que pedem uma proibição dos seus símbolos.
"Não vejo outra solução legal a não ser a que a Itália está adotando, ou seja, a de proibir todos os símbolos nazi-fascistas, incluindo os ustashas", disse à Efe Zarko Puhovski, professor de História na Faculdade de Filosofia de Zagreb.
Mas no seu lugar, o Governo croata formou uma "Comissão para o enfrentamento do passado", que proporá medidas a respeito dos símbolos "de todos os regimes totalitários".
Isso faz uma aparente referência não apenas aos ustashas, mas também aos partisanos e comunistas.
Para muitos analistas croatas, trata-se apenas de uma nova tentativa de "mitigar" ou "limpar" o caráter criminoso do regime ustasha, equiparando suas ações com as dos partisanos e comunistas.
"Mas é provável que isto não vá acontecer, segundo o que indicam as decisões de tribunais europeus e a prática nos países da União Europeia, com a possível exceção da Hungria e da Polônia, conclui Puhovski.Vesna Bernardic.EFE
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