ESTUDO-ARÁBIA

Seca severa na Arábia antiga pode ter contribuído para surgimento do Islã
© Shutterstock Um período de seca severa que pode ter se arrastado por décadas, culminando com a destruição do principal reino da Arábia durante a Antiguidade, pode ter sido um dos fatores-chave por trás das origens do Islã, afirma um novo estudo. A desarticulação política e econômica trazida pelo evento climático teria aberto espaço para que o movimento religioso criado por Maomé se tornasse dominante na região. Os dados que ancoram a hipótese estão em artigo na última edição do periódico especializado americano Science. Pesquisadores liderados pelo geoquímico Dominik Fleitmann, da Universidade da Basileia, na Suíça, e pelo historiador John Haldon, da Universidade Princeton (EUA), obtiveram informações detalhadas sobre os vaivéns do clima árabe ao longo dos séculos a partir de uma estalagmite. A estrutura, que é uma projeção que surge no chão de cavernas por causa da ação da água em rochas calcárias, foi achada na gruta de Hoti, que fica no sultanato de Omã (ou seja, no sudeste da península Arábica). Como o processo de formação das estalagmites costuma ser muito lento e constante, elas podem funcionar como uma espécie de cápsula do tempo, armazenando em sua composição química as características ambientais que prevaleceram ao longo de séculos e milênios. No caso da estrutura encontrada na gruta de Hoti, por exemplo, os pesquisadores calculam uma taxa de crescimento em torno de 0,23 milímetro por ano. Além disso, a formação rochosa também carrega variantes radioativas de elementos químicos, as quais se transformam em outros elementos a uma taxa conhecida. Isso equivale a um "tique-taque" constante o suficiente para datar com precisão a idade de cada pedaço da estalagmite. Os registros climáticos da caverna, que se estendem pelos últimos 2.600 anos, indicam que a região passou pela pior seca de todo esse período entre os anos 500 e 530 da Era Cristã, cerca de 50 anos antes do nascimento de Maomé. "O registro de Oman normalmente vale para todo o sul da Arábia, no mínimo, mas temos outras indicações de um efeito mais amplo na península toda e em outras regiões do Mediterrâneo Oriental. Tudo indica que foi um fenômeno de larga escala e com duração de vários anos", disse Fleitmann à Folha em entrevista por videoconferência.

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