EUROPA NACIONALISMO

Nacionalismo da Polônia ameaça valores europeus

A Polônia conservadora, católica e de valores familiares contrasta com uma Europa ocidental sem deus, livre e gentil (Foto: Pixabay)

O jovem prefeito de uma pequena cidade no leste da Polônia está orgulhoso de seu novo caminhão de bombeiros italiano. Há também na cidade uma escola com novas salas e um novo ginásio completo.

Todas essas novidades, além de estradas, painéis solares e sistema de esgoto foram pagos, em grande parte, pela União Europeia, que financia cerca de 60% do investimento público da Polônia. Por isso, é difícil pensar que a Polônia está em uma espécie de guerra contra o bloco econômico.

A Polônia é um país grande, rico, importante geoestrategicamente e militarmente poderoso. Mas o conflito crescente entre os estados-membros originais do ocidente e os novos membros da Europa oriental e central é a principal ameaça à coesão e sobrevivência da União Europeia.

A polônia acusa Bruxelas e a Alemanha de ditar termos para os novos membros e tentar impor uma visão elitista. Depois de ser esmagada entre impérios e ocupada pelo fascismo e comunismo, a Polônia está pronta para ocupar seu lugar como igual, segundo Jaroslaw Kaczynski, presidente do partido dominante, Lei e Justiça.

A combinação do nacionalismo, conservadorismo religioso, anti-elitismo e ataque contra aqueles que querem ditar as taxas de migração na Polônia foi o que fez o partido se tornar o maior de todos no país.

O partido cresceu de quase 38% do voto na eleição de 2015 para cerca de 47% nas recentes pesquisas de opinião. Muito desse sucesso é atribuído ao investimento feito na zona rural, e muito desse dinheiro é atribuído ao apoio da União Europeia e ao acesso de seus mercados e seus empregos.

Mas, mais do que dinheiro, o partido prospera em políticas culturais e identitárias. A Polônia conservadora, católica e de valores familiares contrasta com uma Europa ocidental sem deus, livre e gentil.

No distrito de Sniadowo, as pessoas vão à igreja várias vezes na semana. “Promover o casamento gay não vai ser uma boa ideia aqui”, disse o vereador Marek Adam Komorowski. “Se você está na Europa, você não pode ser contra isso, mas esta não é a norma aqui. Aqui, família significa outra coisa”.

Segundo o historiador local Slawomir Zgrzywa, a longa história de conflito da Polônia com a Rússia fez com que o país se tornasse cético em relação a “qualquer tipo de política liberal e de esquerda” e aumentou a posição de um sacerdócio católico romano profundamente conservador e politizado.

A nova lei da Polônia sobre a história e o Holocausto é outro exemplo de que o governo ofende a liberdade de expressão da Europa Ocidental. Na Polônia, ela é vista como um esforço para proteger o país de todos aqueles estrangeiros irritados e chateados – incluindo judeus e europeus ocidentais.

O partido dominante tem uma visão semelhante à britânica em relação à União Europeia. Ambos enxergam o bloco como uma união de nações que negociam livremente uns com os outros, mas que não devem interferir na política interna ou na cultura nacional. A Polônia rejeita uma Europa “multinível”, com um núcleo interno de estados da zona do euro e um anel externo de membros menores.

“Em geral, a prioridade do Kaczynski é doméstica”, disse Piotr Buras, chefe do escritório de Varsóvia do Conselho Europeu de Relações Exteriores. “Ele está usando lentamente meios principalmente democráticos, acumulando tanto poder que a posição do partido é inatacável”.

Segundo o governo, as mudanças são necessárias para limpar uma antiga elite comunista, mas estão “tornando a independência do judiciário completamente discutível” , disse em dezembro Frans Timmermans , vice-presidente da Comissão Europeia.

A União Europeia, por sua vez, já advertiu oficialmente a Polônia, acusando Varsóvia de “uma violação grave” do seu compromisso com valores compartilhados da democracia liberal e do Estado de Direito, princípios que todos os estados-membros juraram defender.
The New York Times

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