MARCA EPIGENÉTICA

Um trauma pode ser herdado?

A ideia de que levamos algum traço biológico da dor de nossos ancestrais tem um forte apelo emocional (Foto: Pixabay)

Em outubro deste ano, pesquisadores da Califórnia publicaram um estudo sobre prisioneiros da Guerra Civil, que sofreram abusos enquanto detidos. Nele, chegou-se à conclusão de que os filhos dos prisioneiros de guerra analisados tinham, em média, 10% a mais de chance de morrer antes de seus cônjuges a partir da meia idade.

Os autores do estudo concluíram que existe uma “explicação epigenética” para isso. Um trauma pode deixar marcas químicas no gene da pessoa, que as passa para as gerações seguintes. Essa marca referente ao trauma não danifica diretamente o gene porque não ocorre uma mutação. Em vez disso, o mecanismo pelo qual o gene é convertido é alterado pelas proteínas funcionais. Por isso, é considerada como epigenética.

A epigenética ganhou força nos últimos dez anos, quando cientistas relataram que as crianças que foram expostas a alguma situação adversa, carregavam uma marca química específica ou a assinatura epigenética em um de seus genes. Posteriormente, essa descoberta foi associada à diferença de saúde entre crianças, incluindo maior predisposição ao sobrepeso.

A novidade gerou diversos estudos com os descendentes dos sobreviventes do Holcausto e vítimas de pobreza, sugerindo a hereditariedade do trauma. Se os estudos se sustentarem, irão sugerir que o indivíduo herda traços da experiência dos pais e dos avós, principalmente o sofrimento, que altera a saúde cotidiana.

Críticos afirmam que a conclusão não é plausível e os pesquisadores da epigenética argumentam que as evidências são sólidas, mesmo que no âmbito da biologia ainda não tenham sido definidas.

Pesquisadores dizem que a crítica é prematura e que a ciência ainda é nova e está progredindo. Estudos em camundongos, em particular, têm sido oferecidos como evidência de tal transmissão de trauma e como modelo para o estudo dos mecanismos. “Os efeitos que encontramos foram pequenos, mas notavelmente consistentes e significativos. É assim que a ciência funciona. É imperfeito no começo e fica mais forte quanto mais você pesquisa”, disse Moshe Szyf, professor de farmacologia na Universidade McGill.The New York Times

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