TERRA SANTA NATAL

Como a única cidade 100% católica melquita de Israel celebra o Natal?

EFE/ Pablo Duer

A única maratona de Natal na Terra Santa e um mercado onde muçulmanos, judeus e cristãos se misturam são algumas das particularidades desta época do ano em Melia, uma cidade localizada no norte de Israel, com 10 mil anos de história e onde só vivem católicos melquitas.

O Natal na Terra Santa não foge ao labirinto de complexidades que caracteriza o passado e o presente da região, e oferece uma grande variedade de histórias, tradições e peculiaridades, que, com um perfil discreto, se sucedem ano após ano à medida em que a atenção internacional se volta a Belém, Jerusalém ou Nazaré.

Uma das curiosas "coadjuvantes" é Melia, uma cidade cristã árabe na Galileia, a menos de 10 quilômetros da fronteira com o Líbano e com 3 mil habitantes.

Andar por suas ruas estreitas é uma viagem às profundezas da história cristã no Oriente Médio.

Monumentos do período bizantino, ruínas de um castelo e de um lagar da época das cruzadas e uma igreja de meados do século XIX, praticamente intactos e com muitas inscrições em árabe, são complementados por uma imponente árvore de Natal na praça central de uma cidade que, junto com a comunidade vizinha de Fasuta, são as únicas localidades em Israel cuja população é inteiramente cristã.

Os habitantes de Melia não só são todos cristãos como greco-católicos, pertencentes à igreja melquita, que segue a tradição litúrgica bizantina, é ligada ao papa romano e é presidida pelo Patriarca de Antioquia dos melquitas, cuja sede fica em Damasco, na Síria, embora também ostente os títulos de Jerusalém e Alexandria.

"É muito importante que as pessoas aqui fiquem e que os cidadãos sejam apenas daqui", contou Hatem Arraf, o prefeito local, à Agência Efe.

Ele explicou que isso não se deve a fatores religiosos, mas comunitários, e reconhece que, para manter essa tradição, não é permitido que pessoas de outras religiões ou mesmo de outros ramos do cristianismo comprem ou aluguem terras ou propriedades na região.

Arraf frisou, no entanto, que a população é caracterizada pela abertura e se orgulha de receber judeus, muçulmanos, drusos e cristãos de outras crenças entre as quase 15 mil pessoas que assistem às celebrações anuais de Natal, que duram até 8 de janeiro para incluir as famílias das três mulheres de Melia que se casaram com cristãos ortodoxos e não vivem mais lá.

Neste ano, a cidade recebeu a já tradicional - e única na Terra Santa - maratona de Natal, com famílias inteiras vestidas de vermelho e branco apoiando milhares de corredores de diferentes partes do país.

Outra tradição é o característico mercado artesanal onde, além de exposições de arte, oficinas gastronômicas e apresentações musicais, produtores locais vendem vinhos, azeites e o famoso arak, uma aguardente de uva tradicional em vários países do Oriente Médio.

"A missa de Natal é muito especial porque não é só para os moradores, como para os jovens de Melia que vivem e estudam em outras partes do país e vêm passar as festas com a família e fortalecer os laços com os entes queridos e a comunidade", disse o padre local Ibrahim Shoufani dentro de sua pequena, mas pitoresca igreja, que recebe mais de 300 pessoas todos os domingos de manhã.

Shoufani, que destacou a "liberdade absoluta de culto" que os cristãos têm em Israel, lamentou, entretanto, que eles não tenham a possibilidade de celebrar com os parentes que vivem na Síria e no Líbano.

"Oramos para que haja paz no Oriente Médio, para todos os países", afirmou, além de ressaltar que acredita que a perseguição de grupos radicais como o Estado islâmico está terminando, e assim ele espera que "os cristãos possam voltar aos seus países".

Segundo o Escritório Central de Estatísticas de Israel, vivem atualmente no país 177 mil cristãos, que representam cerca de 2% da população nacional. Mais de 75% deles são cristãos árabes, e a grande maioria vive no norte do país. EFE

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