FAMÍLIA ÁRABE

A queda na taxa de fecundidade no mundo árabe

Esse declínio, que começou em 1975, foi um movimento espontâneo entre as famílias (Foto: Max Pixel)

Quando Maryam al-Badr, uma aluna de 20 anos da Universidade Northwestern Catar, começou a trabalhar como jornalista em agosto de 2017, seu projeto de vida consistia em se formar e seguir uma carreira, que lhe desse independência, sobretudo financeira.

Casar e constituir logo uma família era uma opção distante nesse projeto, ao contrário das gerações anteriores de mulheres de Catar. Mas o mundo árabe vive um momento de mudança radical nas ideias e comportamento das mulheres jovens.

“Hoje, a maioria das famílias árabes quer ter de dois a três filhos no máximo”, disse Marcia Inhorn, da Universidade de Yale, e autora de um estudo publicado em 2018 sobre o declínio das taxas de fecundidade nos países árabes.

Esse declínio, que começou em 1975, foi um movimento espontâneo entre as famílias, sem relação com programas de planejamento familiar realizados pelos países árabes.

De acordo com o estudo, a redução da taxa de fecundidade foi resultado de uma mudança na estrutura familiar, de uma liberdade maior de escolha devido ao acesso a métodos contraceptivos e do crescimento econômico, que proporcionou mais educação às mulheres.

Entre 1975 e 1980, as mulheres árabes tinham em média sete filhos, um número bem superior à média mundial de três filhos. Hoje, só o Egito, a Jordânia e o Iêmen têm famílias numerosas.

“Apesar do declínio evidente nas taxas de fecundidade, é possível dizer que o mundo árabe assiste a uma revolução silenciosa na estrutura familiar, que não é discutida abertamente. É uma mudança interna na visão da mulher no contexto da sociedade árabe”, disse Inhorn.

Ainda segundo o estudo, as famílias pequenas proporcionam aos pais melhores oportunidades de criar os filhos com mais conforto e acesso à educação, um fator básico para a ascensão social.

No entanto, apesar das evidências, Spyridon Chouliaras, médico especializado em medicina reprodutiva do Sidra Medical and Research Center, em Doha, acredita que os valores tradicionais da sociedade árabe ainda influenciam na formação das famílias.

Como Inhorn citou em seu estudo, a redução das taxas de fecundidade irá alterar a estrutura demográfica da região. O aumento da população jovem entre 15 e 30 anos, que demora a casar e ter filhos, resultará em um rápido envelhecimento da população.

De acordo com estatísticas da ONU, a expectativa de vida na maioria dos países árabes, com exceção do Sudão e do Iêmen, superou a média mundial de 71 anos. Nos países do Golfo Pérsico a expectativa de vida da população atingiu em média 80 anos. Porém, os países árabes não têm uma política eficaz de proteção aos idosos, o que pode causar uma grave crise socioeconômica.

Além da diferença de expectativa de vida, os países do Golfo Pérsico, ao contrário de outros países árabes, têm uma mão de obra expressiva de expatriados. A taxa de fecundidade é um pouco mais alta nesses países, como em Catar, onde as mulheres têm em geral três filhos.

“As autoridades de Catar preocupam-se com o desequilíbrio demográfico entre os cidadãos catarenses e os estrangeiros e, por isso, incentivam os jovens a terem filhos. Essa situação repete-se em outros países do Golfo Pérsico, onde a população local é menor do que as comunidades de expatriados”, observou Inhorn.

Além disso, segundo Inhorn, o movimento migratório causado pela instabilidade política no Iêmen e na Síria, pode também alterar a estrutura demográfica de todo o mundo árabe, com consequências imprevisíveis.Al Jazeera

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A surpreendente cratera de Xico

Por que não enxergamos estrelas verdes ou roxas?

Egípcia posa nua em blog e provoca indignação