EUA - Fentanil, a droga da vez
Maior parte do fentanil que chega aos EUA é produzida na China (Foto: Divulgação/Paige Sutherland/NHPR)
Mortes relacionadas ao consumo abusivo de opioides nos EUA — categoria que vai dos analgésicos à heroína — quase quadruplicaram nas últimas duas décadas. Em alguns estados, a proporção de bebês que nascem com sintomas de abstinência aumentou em 300% desde 1999. Pelo menos 8 mil crianças nasceram com a doença em 2013. Diariamente, 91 americanos morrem de uma overdose envolvendo opioides.
Boa parte dessa tragédia está relacionada à prescrição excessiva de analgésicos permitidos. Em 2015 cerca de 650 mil receitas por dia foram entregues a pacientes. Mas quando as receitas acabam, os dependentes muitas vezes recorrem a substâncias ilícitas. A droga da vez é um opioide sintético chamado fentanil, que é cerca de 50 vezes mais potente do que a heroína e 100 vezes mais potente do que a morfina.
A maior parte do fentanil que chega aos EUA é produzida, muitas vezes legalmente, em fábricas na China. Depois, a droga é enviada a redes criminosas no México e no Canadá e, em seguida, contrabandeada pela fronteira americana. Desde 2013, milhares de americanos morreram de overdose de fentanil.
Em março, o governo chinês, sob pressão dos Estados Unidos e da ONU, concordou em tornar ilegais quatro variantes do fentanil. No entanto, a medida não vai reverter a crise dos opioides nem a ameaça do fentanil. A crise é grave demais para que a criminalização funcione como um impedimento. O país tem pelo menos 2 milhões de viciados em opioides. Eles precisam de tratamento e ambientes controlados para consumir drogas.
Mas a criminalização também é fútil por razões mais profundas. Uma lei inviolável do mercado de drogas, seja para opioides ou maconha, é que a demanda cria a oferta. Fentanil é particularmente atraente para criminosos porque é tão potente — apenas 2 mg do material é suficiente para provocar uma overdose. É fácil esconder esse montante em cartas e pequenos pacotes que são enviados por correio. As recompensas são enormes também: 1 quilo de fentanil custa cerca de US$ 4 mil na China e rende lucros de US $ 1,6 milhão nas ruas dos EUA.
O fentanil e suas variantes estão entre as centenas de novas drogas sintéticas que inundaram o mercado de drogas ilícitas na última década. Novas drogas têm surgido ao ritmo de uma por semana. De 2012 a 2017, 20 novas versões de fentanil apareceram. Um mercado tão diversificado não pode ser apagado. Pressione a China, e laboratórios aparecerão no México. Proíba uma substância, e outra aparecerá.
É preciso coragem para legalizar drogas quando tantos estão morrendo por causa delas. Mas é melhor que os viciados tomem doses seguras de substâncias familiares sob condições controladas do que se arrisquem enquanto enriquecem criminosos. A Suíça optou pela legalização após uma epidemia de heroína nos anos 80 e passou a tratar as drogas como um problema de saúde pública. Desde então, o consumo de drogas e as mortes relacionadas às drogas caíram. Os EUA deveriam seguir este caminho.The Economist
Mortes relacionadas ao consumo abusivo de opioides nos EUA — categoria que vai dos analgésicos à heroína — quase quadruplicaram nas últimas duas décadas. Em alguns estados, a proporção de bebês que nascem com sintomas de abstinência aumentou em 300% desde 1999. Pelo menos 8 mil crianças nasceram com a doença em 2013. Diariamente, 91 americanos morrem de uma overdose envolvendo opioides.
Boa parte dessa tragédia está relacionada à prescrição excessiva de analgésicos permitidos. Em 2015 cerca de 650 mil receitas por dia foram entregues a pacientes. Mas quando as receitas acabam, os dependentes muitas vezes recorrem a substâncias ilícitas. A droga da vez é um opioide sintético chamado fentanil, que é cerca de 50 vezes mais potente do que a heroína e 100 vezes mais potente do que a morfina.
A maior parte do fentanil que chega aos EUA é produzida, muitas vezes legalmente, em fábricas na China. Depois, a droga é enviada a redes criminosas no México e no Canadá e, em seguida, contrabandeada pela fronteira americana. Desde 2013, milhares de americanos morreram de overdose de fentanil.
Em março, o governo chinês, sob pressão dos Estados Unidos e da ONU, concordou em tornar ilegais quatro variantes do fentanil. No entanto, a medida não vai reverter a crise dos opioides nem a ameaça do fentanil. A crise é grave demais para que a criminalização funcione como um impedimento. O país tem pelo menos 2 milhões de viciados em opioides. Eles precisam de tratamento e ambientes controlados para consumir drogas.
Mas a criminalização também é fútil por razões mais profundas. Uma lei inviolável do mercado de drogas, seja para opioides ou maconha, é que a demanda cria a oferta. Fentanil é particularmente atraente para criminosos porque é tão potente — apenas 2 mg do material é suficiente para provocar uma overdose. É fácil esconder esse montante em cartas e pequenos pacotes que são enviados por correio. As recompensas são enormes também: 1 quilo de fentanil custa cerca de US$ 4 mil na China e rende lucros de US $ 1,6 milhão nas ruas dos EUA.
O fentanil e suas variantes estão entre as centenas de novas drogas sintéticas que inundaram o mercado de drogas ilícitas na última década. Novas drogas têm surgido ao ritmo de uma por semana. De 2012 a 2017, 20 novas versões de fentanil apareceram. Um mercado tão diversificado não pode ser apagado. Pressione a China, e laboratórios aparecerão no México. Proíba uma substância, e outra aparecerá.
É preciso coragem para legalizar drogas quando tantos estão morrendo por causa delas. Mas é melhor que os viciados tomem doses seguras de substâncias familiares sob condições controladas do que se arrisquem enquanto enriquecem criminosos. A Suíça optou pela legalização após uma epidemia de heroína nos anos 80 e passou a tratar as drogas como um problema de saúde pública. Desde então, o consumo de drogas e as mortes relacionadas às drogas caíram. Os EUA deveriam seguir este caminho.The Economist
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