LIVROS - Memórias da África
Durante dez anos Gettleman fez reportagens em regiões da África devastadas por conflitos violentos (Foto: Pixabay)
“Lembre-se, não se deixe influenciar demais pelo ‘ooga-booga’ da África”, disse um dos chefes de Jeffrey Gettleman em 2006, pouco antes de ele assumir a chefia do escritório do New York Times na África Oriental. Quando Gettleman o olhou confuso, ele explicou o que queria dizer: “Você sabe, os estereótipos e as trivialidades a respeito da África primitiva e violenta.” Assim que Gettleman chegou a Nairóbi, durante um longo almoço uma pessoa experiente em assuntos africanos lhe deu o seguinte conselho. “Não importa o que você faça, Jeff…não esqueça o ‘ooga-booga’. É a essência da África.”
O termo “ooga-booga” soou estranho para alguém que cobriria o noticiário da África. Mas o dilema enfrentado por Gettleman de como atrair o interesse dos leitores ocidentais para uma região do mundo atormentada por histórias sombrias, sem fortalecer seus preconceitos, é um impasse comum à maioria das pessoas que escreve sobre a África.
Com esse pensamento em mente, durante dez anos Gettleman fez reportagens em regiões da África devastadas por conflitos violentos. “Sentia-me irresponsável ao pensar em uma história leve, sem carga emocional negativa, quando sabia que a uma distância pequena de avião algumas pessoas estavam sendo brutalmente assassinadas”, escreveu em seu livro, Love, Africa: A Memoir of Romance, War, and Survival.
No entanto, apesar de o autor ter sido protagonista de diversos acontecimentos dramáticos, seus relatos superficiais entremeados a uma história de amor, não estão à altura do espírito humanitário e compassivo descrito no livro. Sua reportagem sobre Bagdá no início da ocupação norte-americana dá poucas informações a respeito de uma guerra que ainda repercute no Oriente Médio. A ênfase do relato recai na descrição de uma relação sexual intensa com uma fotógrafa, enquanto cobria as notícias. A narrativa de uma viagem ao interior da região de Ogaden, na Etiópia, com um exército rebelde pouco revela a respeito dos conflitos e da crise de fome na região. As visitas de Gettleman à República Democrática do Congo destacam mais o estupro de mulheres do que as turbulências locais.
Apesar do texto superficial no que se refere às condições terríveis de um continente ameaçado por conflitos constantes, fome e doenças, os relatos descritos por Gettleman, desde o episódio em que quase foi preso por escalar sem permissão o monte Kilimanjaro quando estudante, até a prisão anos depois ao entrar clandestinamente em Ogaden, transmitem uma sensação vívida de um lugar onde tudo é possível.The Economist
“Lembre-se, não se deixe influenciar demais pelo ‘ooga-booga’ da África”, disse um dos chefes de Jeffrey Gettleman em 2006, pouco antes de ele assumir a chefia do escritório do New York Times na África Oriental. Quando Gettleman o olhou confuso, ele explicou o que queria dizer: “Você sabe, os estereótipos e as trivialidades a respeito da África primitiva e violenta.” Assim que Gettleman chegou a Nairóbi, durante um longo almoço uma pessoa experiente em assuntos africanos lhe deu o seguinte conselho. “Não importa o que você faça, Jeff…não esqueça o ‘ooga-booga’. É a essência da África.”
O termo “ooga-booga” soou estranho para alguém que cobriria o noticiário da África. Mas o dilema enfrentado por Gettleman de como atrair o interesse dos leitores ocidentais para uma região do mundo atormentada por histórias sombrias, sem fortalecer seus preconceitos, é um impasse comum à maioria das pessoas que escreve sobre a África.
Com esse pensamento em mente, durante dez anos Gettleman fez reportagens em regiões da África devastadas por conflitos violentos. “Sentia-me irresponsável ao pensar em uma história leve, sem carga emocional negativa, quando sabia que a uma distância pequena de avião algumas pessoas estavam sendo brutalmente assassinadas”, escreveu em seu livro, Love, Africa: A Memoir of Romance, War, and Survival.
No entanto, apesar de o autor ter sido protagonista de diversos acontecimentos dramáticos, seus relatos superficiais entremeados a uma história de amor, não estão à altura do espírito humanitário e compassivo descrito no livro. Sua reportagem sobre Bagdá no início da ocupação norte-americana dá poucas informações a respeito de uma guerra que ainda repercute no Oriente Médio. A ênfase do relato recai na descrição de uma relação sexual intensa com uma fotógrafa, enquanto cobria as notícias. A narrativa de uma viagem ao interior da região de Ogaden, na Etiópia, com um exército rebelde pouco revela a respeito dos conflitos e da crise de fome na região. As visitas de Gettleman à República Democrática do Congo destacam mais o estupro de mulheres do que as turbulências locais.
Apesar do texto superficial no que se refere às condições terríveis de um continente ameaçado por conflitos constantes, fome e doenças, os relatos descritos por Gettleman, desde o episódio em que quase foi preso por escalar sem permissão o monte Kilimanjaro quando estudante, até a prisão anos depois ao entrar clandestinamente em Ogaden, transmitem uma sensação vívida de um lugar onde tudo é possível.The Economist
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