SANTA MARIA

Tragédia da boate Kiss: seis anos sem nenhum condenado

Famílias de vítimas vivem rotina de depressão e tentativas de suicídio (Foto: Wikipédia)

Em 27 de janeiro de 2013, a cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, viveu uma das maiores tragédias da história do estado. Um incêndio na boate Kiss, matou 242 jovens e deixou mais de 600 feridos. As chamas começaram após um dos integrante de uma banda, que se apresentava no local, utilizar um artefato de fogo para complementar sua apresentação. O resultado foi avassalador, incendiando rapidamente o local.

Segundo relatos, a boate estava superlotada e, apesar de não estar em conformidade com as leis anti-incêndio, tinha o alvará para o funcionamento. A tragédia foi marcada por diversos pontos, como a omissão dos donos da boate e, até mesmo, corrupção.

Dois meses após o incêndio, a Polícia Civil indiciou criminalmente 16 pessoas. No total, a investigação responsabilizava 28 pessoas, dentre elas, o prefeito de Santa Maria e ex-secretário de Segurança Pública, Cezar Schirmer. Meses após essa decisão, apenas um dos denunciados foi condenado, porém, teve a pena extinta por prescrição após recursos. Nenhuma pessoa foi presa ou responsabilizada pela morte dos 242 jovens.

Todos os anos, parentes e amigos das vítimas se reúnem em frente à boate para uma vigília. Ninguém quer que a tragédia seja esquecida e todos querem que os responsáveis sejam punidos.

Consequências do incêndio para as famílias

Depois do fatídico dia 27, nenhuma das famílias das vítimas foi mais a mesma. Casos de depressão e até mesmo tentativas de suicídios viraram rotina para as dezenas lares afetados. Pelo menos seis pais morreram ao longo desses seis anos, em decorrência de doenças que podem ser relacionadas à perda dos filhos.

Renato Vasconcelos, pai de Letícia, de 36 anos, que era uma das recepcionistas da boate, morreu no dia 30 de dezembro de 2018, após descobrir uma embolia pulmonar e não aceitar o tratamento. Segundo a outra filha, Vanessa, o pai proibiu a família de chamar uma ambulância caso ele se sentisse mal. Vanessa afirmou que “ele desistiu de viver”. Ele morreu em casa aos 69 anos.

Erci Vasconcelos, viúva de Renato e mãe de Letícia, entrou em depressão profunda e nunca mais saiu de casa após a tragédia. “Quem perde uma filha, o resto é o resto, a morte para mim, é uma libertação”, disse Erci, de 64 anos.

Outro pai de uma das vítimas relatou que, mesmo tomando três medicações diárias, não consegue dormir mais do que quatro horas, desde que sua primogênita morreu na tragédia. As irmãs Ritchieli, de 19 anos, e Driele, 23, estavam na boate e foram resgatadas e levadas para o hospital com vida. A primogênita morreu 40 dias depois e a mais nova ficou cinco meses em tratamento intensivo.

“Minha filha aprendeu tudo de novo, comer, andar, falar e até respirar. Quando veio a alta médica, outra derrota”, disse Lucas, pai de Ritchieli. A esposa de Lucas e mãe de Ritchieli, Sandra, morreu dois dias após a alta da filha, devido a um câncer. Ela havia optado por interromper o tratamento após a morte de Driele.

O serviço municipal Santa Maria Acolhe atende, pelo menos, 80 pessoas que continuam com tratamentos psicológicos e psiquiátricos. O serviço chegou a atender mais de 2 mil pessoas após a tragédia.

Por conta da depressão após perder a filha de 18 anos, a ex-auxiliar de nutrição, Carina Corrêa, tentou o suicídio tomando remédios, mas foi hospitalizada. Meses após a recuperação, Carina tentou matar sua outra filha, Camilly, e cometer suicídio em seguida. Ela também provocou inúmeros cortes em seu próprio corpo, sendo encaminhada novamente ao hospital. Carina diz conhecer outros pais que também tentaram o suicídio, porém, sem sucesso.

A associação de familiares e sobreviventes optou por manter a estrutura da boate Kiss de pé, enquanto os quatro réus não forem julgados. A ideia é levar o júri popular para dentro do local.

Ainda não se sabe se existirá um júri para julgar o caso, que sofreu uma grande reviravolta em 2017. O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul decidiu que os sócios da boate, Elissandro Sphor e Mauro Hoffmann, além dos integrantes da banda que provocou o incêndio, Gurizada Fandangueira, Luciano Bonilha e Marcelo de Jesus, deveriam ir a júri pelo homicídio de 242 pessoas, além da tentativa de homicídio de mais 636.

A defesa recorreu e o tribunal optou por não levar o caso a júri popular. O Ministério Público recorreu ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), argumentando que os réus assumiram a responsabilidade do risco de matar, visto que a boate estava superlotada. O caso está nas mãos do relator, o ministro Rogério Schietti Cruz.VEJA

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