TRADIÇÃO EM XEQUE

O fim das bancas de jornais


Bancas estão tentando inovar para sobreviver (Foto: Wikimedia)

Em meio à queda nas vendas da mídia impressa e à compra de suvenires pelos turistas, a cidade de Barcelona tenta preservar a antiga cultura das bancas de jornal.

Durante gerações, o dia em Barcelona, assim como em outras cidades da Espanha, começava com a compra do jornal na banca, seguida por sua leitura em um bar enquanto se tomava café da manhã. Essas duas instituições urbanas, a banca de jornal e o bar, constituíram a essência da vida social nos bairros da cidade.

“Temos um relacionamento íntimo com nossos clientes. Como medida de segurança, tenho cópias das chaves da casa de 15 pessoas neste bairro. Assim, elas não ficam impedidas de entrarem em casa se perderem as chaves. É uma relação de total confiança”, disse Máximo Frutos, dono de uma banca de jornal e vice-presidente da Associação de Vendedores de Jornais e Revistas.

Além da venda de jornais e revistas, a banca é um ponto de encontro das pessoas nos bairros. Mas com a queda na venda da mídia impressa, muitos jornaleiros estão lutando para sobreviver. Nos últimos anos, 53 das 338 bancas de Barcelona encerraram suas atividades.

“Há 15 anos, as vendas de jornais eram responsáveis por cerca de 80% da receita. Este ano lucrei mais com a venda de refrigerantes do que com jornais”, disse Máximo. Segundo ele, a maioria dos jornaleiros está sobrevivendo com a venda de espaço publicitário nas bancas.

Recentemente, a prefeitura lançou um projeto piloto para revitalizar o comércio de publicações periódicas da cidade. Os responsáveis pelo projeto Km-Zero selecionaram dez bancas e contrataram uma equipe multidisciplinar, composta inclusive de pessoas com deficiência física, para trabalhar nelas.

Em áreas que atraem mais turistas, como a famosa avenida La Rambla, as 11 bancas de jornal diversificaram a venda de seus produtos, com a inclusão de suvenires. Elas também funcionam como pontos de informações turísticas, trocas de livros usados e locais de recarga de celulares e bicicletas elétricas.

Até 2013, as barracas instaladas no final da avenida vendiam passarinhos, coelhos, galinhas e pequenos répteis. Após uma campanha de ativistas de proteção e defesa de animais, as barracas foram substituídas por quiosques que vendem sorvetes, doces e suvenires. Mas no contexto do projeto de revitalização da avenida La Rampla para atrair moradores locais é provável que esses espaços sejam obrigados a fechar.

Porém, são os 16 quiosques de flores que mantêm o espírito da antiga Rambla. Em 1935, durante a encenação da peça “Doña Rosita” de Garcia Lorca em um teatro na avenida, todas as noites a atriz Margarita Xirgu recebia um buquê anônimo de flores. Ao saber que as flores eram enviadas pelos vendedores locais, Lorca homenageou-os com uma apresentação especial.

Carolina Pallés, uma florista cuja família tem um quiosque em La Rambla desde 1888, aprova o projeto da prefeitura da retirada de bancas de jornal e quiosques mais turísticos do centro da avenida. “Os turistas só compram flores no Dia dos Namorados. Nossos clientes são moradores da cidade. Eles compram flores no Natal e por ocasião de casamentos e enterros. Fazemos também arranjos de flores para os hotéis”, diz Pallés.

Assim como Pallés, os donos de bancas de jornal mais tradicionais conhecem seus clientes, suas famílias e hábitos. As bancas são locais de grande importância na vida social de Barcelona, que a era digital e o turismo em massa estão prejudicando. É um patrimônio cultural que moradores e o governo tentam com razão preservar.The Guardian

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