DISENTERIA. TERÁ ELA SALVADO A REVOLUÇÃO FRANCESA?


Uma doença teria salvado a Revolução francesa na Batalha de Valmy? Esta é a tese que a pesquisadora Sofiane Bouhdiba defende em seu livro mais recente, O Inimigo invisível. Professora de demografia na Universidade de Tunis e especialista em fatores de mortalidade de massa, ela revisita magistralmente a história de dez famosos episódios de guerras, das Cruzadas na Idade Média à Guerra do Golfo. As imagens que descreve passam bem longe dos duelos gloriosos pintados por Épinal, bem como das cargas heróicas das cavalarias ligeiras…

Bem distante dessas imagens românticas, Sofiane nos mostra que a maioria dos combatentes morre sem ter combatido o inimigo com espadas. Os soldados não perecem apenas ao combater o inimigo frente à frente, mas suas vidas são ceifadas por outros adversários, bem mais perigosos: as epidemias, os rigores do clima ou a fome. E o mesmo acontece com as populações civis envolvidas nesses levantes da história.

Retornemos a Valmy. Em setembro de 1792, o exército francês, com cerca de 30 mil soldados, opõe-se à mesma quantidade de soldados austro-prussianos. Surge uma «batalha estranha» que, afinal, se resumiu a um furioso bombardeio. Houve 300 vítimas francesas, e cerca de 200 do outro lado. No entanto, no dia 20 daquele mês de setembro, o Duque de Brunswick, comandante dos adversários dos franceses bateu em retirada de modo tão inesperado quanto precipitado. É que suas tropas foram afetadas por uma epidemia de disenteria tão forte que o comandante pensou tratar-se de uma peste. A doença foi agravada pelas más condições de nutrição (água suja, pão bolorento) das tropas austro-prussianas. O relato do poeta alemão Goethe, que participou da batalha, também é instrutivo a esse respeito.

Cólera, tifo, varíola, sarampo

E os relatos da autora não param aí: Fome das Cruzadas na Antióquia, fazendo com que os cruzados tivessem todos os tipos de alucinações; peste em Caffa, na atual Ucrânia; varíola e sarampo, que praticamente dizimaram as populações dos Astecas, muito mais do que a ação de algumas centenas de conquistadores; cólera na Crimeia, febre tifóide na Tunísia, etc.

Poderíamos pensar que os soldados, na atualidade, estão quase sempre muito melhor equipados, vacinados, reabastecidos… No entanto, o que dizer da famosa e ainda misteriosa Síndrome da Guerra do Golfo que alguns vinculam à utilização de urânio empobrecido? Essa síndrome atingiu um número enorme de veteranos da Guerra do Golfo em 1991, bem como civis que estiveram perto das áreas de conflito ou das demolições de depósitos de armas químicas. Caracteriza-se por uma vasta gama de sintomas crônicos e agudos, notadamente danos ao sistema imunológico e malformações congênitas. Nem sempre ficou claro se os sintomas estavam relacionados com os serviços prestados na guerra ou se a ocorrência de determinadas doenças é comparável à de populações comuns.Le Figaro


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