ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS

Partido M5S quer vencer as eleições italianas em março

Luigi Di Maio é candidato a primeiro-ministro do Movimento Cinco Estrelas (Foto: Flickr)

O bairro de Scampia em uma segunda-feira chuvosa é o último lugar que a maioria dos italianos gostaria de estar. Antes um reduto da Camorra, a máfia napolitana, e cenário de dois assassinatos de famílias mafiosas rivais, Scampia é sinônimo de perigo e miséria. O tráfico de drogas, o principal problema local, mudou-se para outras áreas de Nápoles. Mas ele continua a ser um bairro violento e Luigi Di Maio, candidato a primeiro-ministro do Movimento Cinco Estrelas (M5S), era uma imagem destoante naquela segunda-feira em meio à pobreza do lugar, com um terno escuro elegante e uma gravata azul.

As eleições gerais da Itália serão realizadas em 4 de março e Di Maio esteve em Scampia para fazer uma palestra em um ginásio que abriga meninos de rua. Era o local ideal para destacar o lema de honestidade e respeito à lei do M5S, qualidades muitas vezes inexistentes na política italiana. No entanto, apesar de se vangloriar dos seus princípios morais, o movimento tem sido alvo de escândalos, o último deles na segunda semana de fevereiro.

Quando iniciaram seus mandatos, os parlamentares do M5S comprometeram-se a doar metade dos seus salários para um fundo do Ministério de Economia e Finanças a fim de financiar pequenas e médias empresas. Até agora, os deputados contribuíram com mais de € 23 milhões (US$28,7 milhões). Mas em 11 de fevereiro, um programa de televisão em um canal controlado por Silvio Berlusconi, fundador do partido Força Itália, acusou alguns dos deputados do movimento de burlar o sistema para ter o dinheiro doado devolvido. Após consultas à sua base parlamentar, Di Maio disse que oito deputados tinham obtido devoluções no valor de € 795,000. Dois renunciaram aos seus mandatos. Outro saiu do M5S.

No dia 13 de fevereiro, a notícia do desvio do dinheiro chegou ao Parlamento Europeu, depois que um dos parlamentares mais importantes do movimento desligou-se do M5S e se recusou a falar com jornalistas. Ele era o último alvo da investigação. “Maçãs podres estão por toda parte”, disse Di Maio. “Mas nós expulsamos os deputados sem princípios éticos, enquanto em outros partidos eles são nomeados ministros”.

Esse foi um comentário correto. Mas problemas anteriores da campanha transmitiram a imagem de amadorismo e vulnerabilidade do M5S. Em 7 de fevereiro, o site de notícias Il Post divulgou que partes do programa de governo do movimento haviam sido copiadas de diversas fontes, entre as quais a Wikipedia. Além disso, circulou uma notícia que um candidato do M5S ao Parlamento se orgulhava de ter batido em um imigrante romeno.

Porém, o desencanto com a política na Itália é tão grande, que esses percalços pouco prejudicaram a popularidade do M5S. As pesquisas mostram que o movimento conta com o apoio de quase 28% dos eleitores.

“O M5S atrai o apoio de todas as regiões do país e de todos os segmentos da sociedade”, disse Roberto D’Alimonte, professor de ciência política da Universidade LUISS em Roma. Seu ambientalismo agrada à classe média. Em um teatro no centro de Nápoles, Di Maio apresentou alguns dos candidatos locais: um professor universitário, um veterinário e um diretor de teatro que apresentara peças nas prisões da cidade. O movimento, no entanto, é menos popular entre as pessoas mais velhas e conservadoras, acrescentou D’Alimonte.

Fundado há nove anos por Beppe Grillo, um comediante e blogueiro, o movimento se opõe às correntes predominantes da política italiana. Assim como o partido francês Em Marcha!, o M5S rejeita a política, tanto de esquerda quanto de direita, baseada na noção obsoleta de divisões de classe. Mas, apesar do terno e gravata, Di Maio não é Emmanuel Macron. Ele não tem formação universitária e nunca teve um emprego regular antes de ser eleito deputado em 2013, aos 26 anos.

Segundo as pesquisas, o M5S, apesar de sua ascensão e apoio popular, se eleito não terá a maioria no Parlamento para governar e, assim, precisará fazer alianças e concessões prejudiciais à sua plataforma política e ideológica de um movimento antissistema que se destina a combater a corrupção e o status quo da política italiana. Um futuro incerto para um movimento que ambiciona conquistar o poder na Itália.The Economist

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