Especialista: Brexit é retrocesso para humanidade


A decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia gera um clima de incerteza, porque pode provocar um impacto profundo na economia do país e da União Europeia (EU), com reflexos no restante do mundo. Além disso, do ponto de vista ideológico, o referendo que determinou a saída do país do bloco é um retrocesso para a “evolução da humanidade”, porque vem de uma nação liberal, com tendência à pluralidade, afirma o professor Christian Lohbauer, cientista político do Instituto de Relações internacionais da USP.

“É um país liberal, que tomou uma decisão não liberal. Tomou uma decisão de proteger seu espaço, de fechar fronteiras e impedir o tráfego de pessoas, que vai ter um efeito sobre o tráfego de capitais, sobre o comércio, sobre a manutenção da unidade do próprio Reino Unido. É tudo muito complicado e realmente há perguntas que ainda estão no ar”, disse o especialista sobre a Brexit – contração de “Britain exit”, literalmente “saída da Grã-Bretanha”.

Segundo Lohbauer, a participação do país na interação europeia foi “contaminado” pela demagogia política. “É evidente que é melhor para o Reino Unido permanecer na UE, por todas as razões: comércio, mundo financeiro, integração regional, tolerância”, enumera.

O resultado do referendo foi imediato no mercado financeiro: após a divulgação de que a Brexit havia vencido, a libra caiu para o nível mais baixo em relação ao dólar desde 1985. Mark Carney, o governador do Banco da Inglaterra, prometeu a liquidez necessária às instituições para que a crise política que começa agora, com a saída do primeiro-ministro David Cameron, não se torne uma crise financeira - Carney garante que há 250 bilhões de libras em fundos para assegurar o funcionamento dos mercados.

Jovens contra a Brexit, mais velhos a favor

A votação do referendo foi apertada: a Brexit recebeu 51,9% dos votos, enquanto 48,1% votaram pela permanência. Os mais jovens

Dos quatro países que compões o Reino Unido, a Inglaterra e País de Gales votaram fortemente a favor da saída, enquanto cidadãos da Escócia e da Irlanda do Norte optaram pela permanência no bloco. Em Londres, 60% dos votos foram pela permanência na UE. No entanto, em todas as outras regiões inglesas, principalmente no interior, a maioria votou pela saída.

Segundo Lohbauer, o interior do país foi muito influenciado pela imigração, não da Síria e do Iraque, mas do Leste Europeu, com pessoas que realmente passaram a ocupar espaço no mercado de trabalho, tanto em níveis mais básicos quanto naqueles mais sofisticados.

Entre os jovens de 18 e os 24 anos, 73% votaram pela permanência do Reino Unido no bloco, enquanto continuar no bloco era a opção para 62% daqueles entre 25 aos 34. Nas outras faixas etárias, porém, o Brexit era a maioria – para os britânicos com mais de 65 anos, sair era a vontade de 60%.

“Essas regiões foram muito afetadas por um discurso de xenofobia, nacionalista, de soberania, que pegou todas as pessoas acima de 35 anos, que têm uma visão mais antiga da importância da autonomia britânica e que deu esse resultado muito preocupante, porque é uma regressão no avanço da evolução da humanidade, da sociedade ocidental, que é o fechamento de um país que tem uma tendência de abertura, de liberalismo”, critica.

Razões históricas

Segundo o professor Christian Lohbauer, desde que se uniram ao bloco, em 1972, os britânicos sempre apoiaram a iniciativa de União Europeia de uma perspectiva de confederação, que daria mais independência para cada país fazer as suas regras, ao contrário do ambiente federativo, mais controlado, que Bruxelas - capital da Bélgica e da UE - e a aliança franco-alemã sempre promoveram.

“A Inglaterra se recente disso, mais do que os outros países, porque Bruxelas tem um política intervencionista e os ingleses resistem a essa construção de políticas comuns”, explica.

Ele também destaca que a campanha nacionalista do Partido da Independência do Reino Unido (UKIP), liderado por Nigel Farage, resgatou sentimentos nacionalistas históricos do país, como o fato da Inglaterra sempre ter sido “o bastião da resistência democrática e do mundo livre”, seja na época em que Napoleão Bonaparte (1769-1821) dominou a Europa ou no ambiente da Segunda Guerra Mundial (1939-45), no combate ao nazismo e ao fascismo.

“Isso criou nos britânicos uma espécie de diferencial, além do [fato de] que eles são uma ilha, que nunca se submeteu a nenhuma potência europeia. É o único espaço da região com essa característica", ressalta. Isso tudo, aliado ao discurso xenofóbico, ao fortalecimento do grupo de independentes do UKIP, contribui para entender como o cidadão comum interpretou essa decisão e decidiu sair.”BandNews

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A surpreendente cratera de Xico

Por que não enxergamos estrelas verdes ou roxas?

Egípcia posa nua em blog e provoca indignação