MEDIDAS DE CONTROLE

Governo da Hungria mira pesquisas científicas

Desde 2010, Orbán tem liderado uma campanha de repressão (Foto: Pixnio)

O governo de extrema-direita da Hungria está adotando medidas para exercer um controle mais rígido nas instituições de pesquisa do país, um ataque sem precedentes à liberdade acadêmica na Europa.

Desde que assumiu o cargo de primeiro-ministro em 2010, Viktor Orbán tem feito uma campanha maciça de repressão aos veículos de comunicação independentes, de cobrança indevida de impostos às ONGs envolvidas com a questão da imigração e de controle de instituições de ensino e pesquisa do país.

A Universidade Centro-Europeia, fundada em Budapeste pelo investidor e filantropo húngaro-americano George Soros, foi obrigada a transferir alguns de seus cursos de mestrado e doutorado em língua inglesa, respeitados na comunidade acadêmica mundial, para Viena após uma longa batalha com o governo referente ao conteúdo dos cursos.

A Academia de Ciências da Hungria é o alvo mais recente do aumento do controle estatal. A academia tem como membros cientistas e intelectuais renomados. Além disso, coordena uma ampla rede de pesquisa com 15 institutos e 150 grupos de pesquisa, em um total de 3 mil pesquisadores.

O governo planeja retirar esses institutos da coordenação da academia e criar conselhos de administração nos quais os membros nomeados pelo governo tenham maioria. O Parlamento, controlado pelo partido governista Fidesz, está discutindo o projeto de lei para regulamentar essa nova estrutura proposta pelo governo. Segundo os parlamentares, após a aprovação a lei entrará em vigor em 1º de setembro.

“A Academia de Ciências é uma instituição soberana, mas precisa atender aos interesses nacionais”, disse o ministro das Relações Exteriores, Péter Szijjártó, em uma conferência em Bratislava na primeira semana de junho. “É evidente que suas pesquisas também devem focar áreas importantes para a competitividade futura do país”.

No entanto, os acadêmicos afirmam que a ação do governo é uma represália às críticas feitas a Orbán por pesquisadores da área de ciências sociais.

“Não temos medo de criticar o governo quando as pesquisas mostram erros na condução da política. A interferência do governo no meio acadêmico é mais uma demonstração do autoritarismo do Estado”, disse Emese Szilágyi, coordenadora de um dos institutos da academia.

Em uma entrevista a um site pró-governo no ano passado, László Palkovics, ministro do Comércio e da Indústria, criticou a academia por se intrometer em assuntos políticos. “Em alguns casos, a academia desempenhou um papel político que excedeu os limites de suas atribuições”.

László Lovász, matemático e presidente da Academia de Ciências, justificou a crítica dos pesquisadores da área de ciências sociais à política do governo por se basear em estudos bem fundamentados. “Não julgamos ser uma intromissão em assuntos do Estado e sim uma colaboração”, disse em uma coletiva de imprensa no imponente prédio da academia no centro de Budapeste, em 12 de junho.

Lovász acrescentou que as pesquisas de longo prazo em todos os campos do conhecimento que não atenderem às prioridades do governo serão afetadas pelas novas medidas de reorganização da academia, além do controle se estender às áreas administrativa e financeira.

Antonio Loprieno, presidente da Federação Europeia de Academias de Ciências e Humanidades, acha natural que o governo estabeleça diretrizes para os gastos orçamentários de instituições de ensino e pesquisa do país, porém não da forma arbitrária como a imposta pelo governo da Hungria.

“Temo que as medidas da Hungria sejam seguidas por outros países membros da União Europeia (UE) com governos populistas e de extrema-direita, onde as universidades e os institutos de pesquisa constituem uma ameaça à autoridade deles”, disse Lopriano.The Guardian


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