ABALO GEOPOLÍTICO - Angela Merkel sinaliza fim do alinhamento da Europa aos EUA

Contexto que se desenrola será extremamente prejudicial para os EUA (Foto: Wikimedia)

A chanceler alemã, Angela Merkel, abriu um novo capítulo nas relações entre a Europa e os Estados Unidos no último domingo, 28.

Em uma conferência de imprensa dada em Munique, Merkel disse ser hora de a Europa “controlar seu destino com as próprias mãos” e “deixar de depender de aliados dos quais dependeram no passado”. Ela se referia aos Estados Unidos.

A declaração foi dada após três dias de fracassadas negociações na cúpula da Otan, realizada na Sicília, na qual Trump se recusou a endossar a doutrina de defesa mútua do bloco e em entrar em consenso em questões como mudanças climáticas, comercio internacional e Rússia.

Claramente desapontada, Merkel sinalizou um novo paradigma, onde a Europa não necessariamente seja alinhada aos EUA, como tem sido historicamente. “Os tempos em que podíamos confiar plenamente nos outros de alguma forma acabaram. Foi o que senti nos últimos dias”, disse Merkel.

Os comentários da líder da maior potência europeia foram sem precedentes e traçam um cenário sombrio para a aliança transatlântica que desde a Segunda Guerra Mundial guia o mundo e mantêm a segurança do Ocidente. Eles também preparam a população alemã para se acostumar a um papel mais ativo do país nas questões globais e europeias.

O afastamento entre EUA e Europa ocorre no mesmo momento em que o Reino Unido se prepara para deixar a União Europeia, o que significa que o bloco perderá sua segunda maior economia e uma de suas três potências nucleares.

Os comentários de Merkel também indicam um aumento do protagonismo geopolítico alemão na Europa, que vem se tornando uma potência dominante no continente em parceria com a França. O novo presidente francês, Emmanuel Macron, expressou inclinação para trabalhar junto à Alemanha para recuperar a União Europeia de seus problemas.

Segundo analistas, o contexto que se desenrola será extremamente prejudicial para os EUA. “Isso aparenta ser o fim de uma era, na qual os EUA lideravam e a Europa seguia”, disse, em entrevista ao New York Times, Ivo H. Daalder, ex- enviado especial dos EUA para a Otan e atual diretor do Conselho de Chicago para Assuntos Internacionais.

A opinião é corroborada por Cliff Kupchan, presidente do grupo Eurasia. “Trump está criando a maior fissura transatlântica desde a guerra do Iraque, talvez, desde a Segunda Guerra Mundial. Isso deixa os EUA expostos. Se o acordo nuclear com o Irã definhar, por exemplo, a Europa pode não ficar do lado de Trump em uma perigosa crise”, disse Kupchan, em entrevista ao Washington Post.

Apesar disso, Trump parece satisfeito com o cenário. Em sua conta no Twitter ele considerou a cúpula da Otan um sucesso. “Acabo de retornar da Europa. A viagem foi um grande sucesso para os EUA. Trabalho duro, mas grandes resultados”, escreveu o presidente americano.

Trump e Merkel tem trajetórias e posições radicalmente distintas. Eles são conhecidos por suas divergências e o americano faz questão de deixar claro seu desprezo pela chanceler. Em 17 de maio deste ano, por exemplo, ele se recusou a apertar a mão de Merkel durante uma recepção no Salão Oval da Casa Branca. Diante de fotógrafos que registravam o momento, Merkel perguntou a Trump: “Senhor presidente, poderíamos apertar as mãos?”, disse a chanceler, sinalizando um costume formal entre líderes. Trump, no entanto, a ignorou.

A chanceler alemã se prepara para disputar seu quarto mandato nas eleições parlamentares da Alemanha de setembro deste ano.
The New York Times

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