Comportamento

O sono da mulher amada

Por Xico Sá

“Amar, além de muitas outras coisas, quer dizer deleitar-se na contemplação e na observação da pessoa amada”, sopra o velho escritor Alberto Moravia, sempre aqui na cabeceira.
Uma das melhores coisas da vida é observar a pessoa amada que dorme, entregue, para além dos pesadelos diários.
Como bem disse Antônio Maria, o grande cronista que aparece com ciúmes até da própria sombra no livro da Danuza, um homem e uma mulher jamais deveriam dormir ao mesmo tempo, embora invariavelmente juntos, para que não perdessem, um no outro, o primeiro carinho de que desperta.
Experimente você também, sensível leitora, ver o seu homem quando dorme. Há uma beleza nessa vigília que os tempos corridos de hoje não percebem.
Amar é… vê-lo(a) dormindo.
Cada mexidinha, cada gesto. O que sonha nesse exato momento? Tomara que seja comigo, você pensa, pois o amor também é egoísmo. Gaste pelo menos meia hora por semana nesse privilegiado observatório.
Psiuuuuu!
Ela dorme.
Mãozinha no ar, como se apanhasse pássaros, que coisa mais linda. Uns 23 minutos assim, mirei no rádio-relógio. A mão desce ao colchão, quase dormente, formigamentos. Coça o nariz. Põe a mãozinha direita entre as coxas.
Agora vira de lado, como os antigos LPs quando gastavam as seis músicas do A. E me abraça como nunca fosse partir, corpos viciados, almas em busca de um acerto.
Dorme, meu anjo.
Ela obedece.

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