Futuro passa pela economia verde


FHC: 'Brasil não precisa crescer tanto quanto a China'

“A passagem para a economia verde pode abrir caminho importante para o progresso”.

A frase do ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso foi um dos destaques de sua apresentação no III Forum Mundial de Sustentabilidade, num hotel de Manaus (AM). Promovido pelo Grupo de Líderes Empresariais (LIDE), o fórum acontece desde quinta, 22, em Manaus, e se encerrou ontem, com a presença de políticos e ambientalistas.

“Isso (a economia verde) não deve acontecer aqui (por ora)”, disse, “mas vai acontecer. As propostas do governo Obama podem sinalizar isso: mudar a matriz da economia americana para uma economia mais verde. Na prática ainda não funcionou”.

FHC evitou comparações de governos e citar ações da gestão atual, mas ressaltou que, no âmbito político, toda e qualquer política pública sobre o meio ambiente passa por um acordo interministerial. “Temos que atuar simultaneamente em várias áreas”.

“Isso não é fácil de fazer”, frisou, embora veja avanços na ideologia da população e de seus mandatários: “Conseguimos criar numa mentalidade de Estado: temos uma área que cuida do meio ambiente. Mas vai convencer o outro mistério de que isso vale (…) É complicado, porque cada um vai focar no seu interesse específico. Se precisar abrir uma estrada, vai fazer”.

Para FHC, o tempo e as iniciativas de todas as esferas, governamentais ou não, maturou o debate no Brasil, que saiu de “uma posição retrógrada no desmatamento “.

“Historicamente a floresta para nós era um inimigo. Se fazia um roçado porque tem bicho. Leva tempo para mudar a mentalidade”, explicou, ao passo que enumerou desafios atuais: “Mas não adianta preservar a floresta sem mudar a visão urbana, melhorar a energia e os transportes”.

Qualidade de vida

Em tempos de globalização avançada do comércio, apesar dos protecionismos, e de uma consciência mundial cada vez mais voltada para o progresso sustentável, o Brasil precisa encontrar um modo “de crescer de modo inteligente”, ressaltou o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso, que enfatizou, porém, que o “Brasil não precisa crescer como a China”, com elevados índices anuais mensurados pelo PIB.

Para FHC, o importante é “a qualidade de vida”.

“Pode-se ter um crescimento médio de 4% ou 5% ao ano e melhorar a qualidade. O nosso crescimento médio é 4%, nos últimos anos”, disse em rápida palestra para empresários e ambientalistas, lembrando principalmente as suas gestões e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O ex-presidente recordou que, com exceção de 2010, um grande momento do país, a última vez que o Brasil cresceu tanto – 7% – foi “na década de 70, no regime militar”. Frisou, no entanto, que aquele crescimento era um índice incompatível com a realidade social, problema que, a seu ver, persiste no país.

“Escrevi num livro sobre crescimento e pobreza. Havia uma explosão demográfica de modo que transportes, saúde e educação foram prejudicados”.

Energia

Para FHC, o país precisa discutir que matriz energética vai propulsionar, e como será feito isso. Apontou um debate não apenas político ou partidário, mas com envolvimento da sociedade.

“Nós temos petróleo, mas temos obrigação de saber como vamos extrair esse petróleo, qual a possibilidade de aumentar a energia eólica, de utilizarmos a fundo medidas de poupança de energia”, ressaltou, para fazer um mea culpa de que, em seu governo, houve “risco” de apagão. “Apelamos à população que reduzisse o consumo, e o esforço que fazemos para reduzir hoje é muito pequeno”.

Na iminência da Conferência Rio+20, em Junho, FHC reforçou a tese de que o país deve acelerar suas ações no que concerne ao compromisso de reduzir 36% a sua emissão de carbono em 20 anos

“Se não fizermos isso em 10 anos, será difícil de ser revertido.(…) Acho que o desafio além de conhecer os mecanismos é colocá-los em prática. Mas há o desafio moral. É moral, tem que fazer porque é questão de valor, é a questão de vida”.

Admitiu, no entanto, que a cobrança da sociedade deve se voltar para a própria, também, e não depender apenas do cenário político.

“É difícil termos um Parlamento que ande depressa”.

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