COREIA DO SUL INVASÃO DE PRIVACIDADE

A revolta das sul-coreanas contra as câmeras espiãs

Além dos protestos, uma petição dirigida ao presidente Moon Jae-in foi assinada por 420 mil pessoas (Foto: Yonhap)

As mulheres sul-coreanas estão reivindicando uma série de questões. No entanto, poucos problemas atraem tantos protestos indignados do que as câmeras que os voyeurs usam para filmá-las ou fotografá-las em situações íntimas.

Desde maio, milhares de mulheres têm protestado nas ruas da Coreia do Sul contra o uso das câmeras (molka), que estão invadindo a privacidade delas.

Esse tipo de voyeurismo é considerado crime na Coreia do Sul há dez anos. O número de casos notificados aumentou desde então de 1.535 em 2011 para 6.465 em 2017, segundo dados do governo. Quase todos os criminosos são homens e, nas raras exceções em que as mulheres o praticam, muitas vezes o tratamento é diferente.

Em maio, uma mulher fotografou um colega nu enquanto posava para uma aula de arte na Universidade Hongik, em Seul, e postou a foto na internet sem o consentimento dele. A mulher foi presa e a polícia revistou sua casa e um cibercafé em busca de provas. Em 13 de agosto, ela foi condenada a dez meses de prisão e 40 horas de terapia sobre violência sexual.

No mesmo dia, um sul-coreano de 29 anos foi condenado a dois anos de prisão por compartilhar fotos e filmes de sua namorada nua online 37 vezes, sem que ela soubesse.

Esses episódios motivaram o grupo Women March for Justice a organizar os protestos contra as câmeras nos últimos meses.

Além dos protestos, uma petição dirigida ao presidente Moon Jae-in e assinada por 420 mil pessoas, pediu que a polícia fosse mais rigorosa nas investigações de filmagens clandestinas. O presidente, com o comentário que essa conduta era um “crime que destruía a vida de uma mulher”, impôs medidas mais severas para punir os criminosos.

Choi, uma escritora de 20 e poucos anos, descreveu sua experiência recente com um caso de voyeurismo. Certa noite, um policial bateu na porta de seu apartamento e lhe entregou uma câmera com fotos nuas dela. Uma pessoa que passava em frente ao prédio havia visto um homem filmando Choi no telhado de um edifício do outro lado da rua e avisara a polícia.

No dia seguinte, Choi foi à delegacia para denunciar o crime. Mas um policial que a recebeu perguntou em um tom de indiferença, “O que você quer que eu faça?”. Mais tarde, Choi soube que o homem tinha sido libertado um dia depois.

De acordo com Lim Ju-whan, um advogado de Seul especializado em casos de assédio sexual, a lei pune com rigor os crimes de fotos e filmes clandestinos. Os criminosos pagam uma multa de 10 milhões de won sul-coreano (US$ 8,858) ou são condenados a até cinco anos de prisão. No entanto, apenas 3% dos autores desses crimes foram presos em 2016, segundo estatísticas da polícia.

A maioria dos casos de voyeurismo não é cometida por pessoas à margem da lei, e sim por estudantes, professores, funcionários públicos, entre outros profissionais, o que explica a baixa taxa de detenção, disse Lim.

Mas a polícia faz revistas minuciosas em banheiros e vestiários públicos, além de estações de metrô com detectores de câmeras molka, que custam em média 300 mil won sul-coreano (US$ 266).

A prefeitura de Seul revistou cerca de 106 mil banheiros públicos de agosto de 2016 a março de 2018, porém segundo Goh Gwang-hyun, um dos funcionários encarregados do trabalho, não foram encontradas câmeras escondidas. “Apesar de o voyeurismo ser mais comum em locais privados, muitas mulheres têm medo de usar banheiros públicos”, disse Goh. “Nosso objetivo é tornar os banheiros públicos seguros para as mulheres”.

As mulheres também assumiram a tarefa de revistar os banheiros públicos em busca de câmeras ocultas. Agora, com a crescente sofisticação dos aparelhos, que são tão pequenos que podem ser escondidos em lugares mais improváveis, o site Tumblbug lançou em fevereiro um kit composto de máscara para proteger a identidade da mulher, uma chave de fenda para quebrar as câmeras, gel de silicone para tapar os buracos e adesivos que marcam o local do esconderijo, com preços entre 10 mil a 20 won sul-coreano (US$ 8 a US$ 17).

No entanto, apesar de todos esses cuidados, as mulheres têm sido vítimas constantes de filmagens secretas em situações constrangedoras e sentem-se inseguras.Quartz

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