CRISE HUMANITÁRIA

ONU acusa militares de Mianmar de genocídio contra rohingyas

Relatório descreve diferentes crimes contra rohingyas (Foto: Roger Arnold/UNHCR)

Um novo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado nesta segunda-feira, 27, acusa os principais militares de Mianmar de promoverem genocídios no norte de Rakhine contra os rohingyas. Segundo a ONU, os militares devem ser “investigados e processados” por crimes contra a humanidade nos estados de Rakhine, Kachin e Shan.

O principal nome acusado pela ONU é o general Min Aung Hlaing, o maior responsável pelas Forças Armadas de Mianmar. Segundo a missão da entidade, estabelecida pelo Conselho de Direitos Humanos em março de 2017, foram encontrados padrões de graves violações de direitos humanos nas localidades citadas.

“A necessidade militar nunca justificaria matar indiscriminadamente, estuprar mulheres, agredir crianças e queimar aldeias inteiras. As táticas do Tatmadaw [nome oficial das Forças Armadas de Mianmar] são consistentemente e grosseiramente desproporcionais às ameaças reais à segurança, especialmente no estado de Rakhine, mas também no norte de Mianmar”, aponta o relatório.

Segundo o documento, foram cometidos crimes como assassinato, prisão, desaparecimento, tortura, estupro, escravidão sexual, violência sexual, perseguição e escravidão. Em Rakhine, também ocorreram crimes como extermínio e deportação. Além de Min Aung Hlaing, o relatório acusa também os comandantes militares Soe Win, Aung Kyaw Zaw, Maung Maung Soe, Aung Aung e Than Oo.

“Eles [os crimes cometidos] são chocantes pelo nível de negação, normalidade e impunidade que lhes é inerente. O desprezo do Tatmadaw pela vida, integridade e liberdade humanas, e pelo direito internacional em geral, deve ser motivo de preocupação para toda a população ”, destaca o relatório.

O documento diz ainda que as autoridades civis não tinham muito espaço para tentar controlar as ações militares. Mesmo assim, por se portar de forma omissa, “as autoridades civis contribuíram para a prática de crimes de atrocidade”. Nesse contexto, o relatório cita o nome da conselheira de Estado de Mianmar, Aung San Suu Kyi, que ganhou o Nobel da Paz em 1991. Para a ONU, a conselheira não usou sua autoridade moral “para conter ou impedir os eventos”.

Dessa forma, o relatório acusou as Forças Armadas de Mianmar de se posicionarem acima da lei, atribuindo também culpa à Justiça do país por não ter tomado nenhuma posição. Por isso, a ONU solicita que a comunidade internacional deve tomar a dianteira para analisar e solucionar o caso de forma independente e imparcial.

O relatório se baseia em investigações e análises feitas ao longo de meses, além de duros relatos de testemunhas. Uma sobrevivente disse à missão da ONU que teve sorte, pois “só foi estuprada por três homens”. Segundo o documento, os estupros eram frequentes em espaços públicos. Crianças foram baleadas, esfaqueadas ou queimadas por militares. Imagens de satélite reforçaram os relatos de destruição massiva contra os rohingyas.

A missão da ONU nunca teve acesso a Mianmar, mas reuniu informações em outros países, como Bangladesh, Indonésia, Malásia, Tailândia e Reino Unido. Ao todo, foram reunidas 875 entrevistas com vítimas e testemunhas, além de imagens de satélite, documentos, fotografias e vídeos.

Em agosto de 2017, membros do Exército de Salvação Rohingya de Arakan (Arsa) atacaram postos militares. Centenas de pessoas, a maioria guerrilheiros, foram mortas. Em resposta, uma intensa e violenta campanha militar contra a etnia rohingya foi iniciada. Na época, o governo de Mianmar negou que fosse uma limpeza étnica, mas apenas uma resposta aos ataques.

Para o relatório da ONU, porém, a resposta foi “brutal e grosseiramente desproporcional”. Além disso, a missão da ONU em Mianmar descobriu que já havia ocorrido um aumento de tropas de militares no norte de Rakhine no início de agosto de 2017, indicando uma possível ofensiva contra os rohingyas.

Além de todos os crimes cometidos contra os rohingyas, também foram registradas violações de direitos humanos contra a etnia conhecida como arracão. No próximo dia 18 de setembro, o Conselho de Direitos Humanos vai apresentar um relatório ainda mais completo.ONU

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