Cinema
O jovem Adolf e seu amigo judeu
Em cartaz na Alemanha, Mein Kampf analisa juventude de Hitler em Viena
Se ao menos a Academia de Artes de Viena o tivesse aceitado como estudante… Talvez assim ele poderia ter seguido seu sonho de se tornar um artista – muito possivelmente um artista medíocre – e o mundo teria sido poupado. Mas o jovem Adolf Hitler foi rejeitado. O que vemos no prólogo de “Mein Kampf”, um perturbador longa-metragem dirigido por Urs Odermatt, é um jovem esquálido e completamente desesperado em roupas esfarrapadas. Magoado pela rejeição acadêmica, ele tem lágrimas nos olhos e uma corda amarrada a seu corpo. Ele salta de um enorme viaduto, e a cena é cortada.
No entanto, essa não é a história de um suicídio, mas o início de outra coisa. Adolf Hitler, um órfão de 19 anos, deixara sua cidade natal, Linz, e partira rumo a Viena, com esperanças de estudar na academia de belas artes da cidade. De acordo com vários biógrafos, ele passou três meses em um abrigo para sem-tetos no sul da cidade. Esse é o ambiente do filme.
“Mein Kampf” é um filme poderoso, adaptado de uma peça homônima escrita pelo falecido George Tabori, um importante dramaturgo alemão de origem judaico-húngara. A separação entre fatos e ficção é de pouca importância. O que ecoa no filme é sua sabedoria objetiva, seu humor e sua corajosa ousadia.
A ambientação transporta os espectadores para a Viena dos anos 1910, uma cidade com uma alta densidade de judeus pobres, uma enorme taxa de desemprego, e quarteirões caindo aos pedaços – um terreno fértil para o exigente orgulho do nacionalismo e do antissemitismo. “Uma guerra rápida resolveria todos os nosso problemas”, protesta um açougueiro frustrado, se referindo aos judeus da vizinhança.
O ator alemão Tom Schilling, tem um desempenho cativante como o jovem, simplório, neurótico, inseguro e sexualmente reprimido Adolf. Schlomo Herzl (Götz George), um velho judeu que ocupa a cama vizinha no abrigo, se afeiçoa ao pobre jovem, e acolhe Adolf, apesar de alertas de um amigo que capta sinais de grande perturbação. O filme segue esse bizarra dinâmica: quanto mais Adolf se beneficia da ajuda de Schlomo, mais ele se transforma em um monstro. Schlomo ajuda Adolf a compreender o poder de sua oratória, e a tragédia segue seu rumo. Nessa parábola do bem e do mal, boas ações inspiram resultados catastróficos.
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