Não faltam histórias sobre superação e valores para o Japão



A capacidade japonesa de superar suas tragédias,

Por Claudio Carneiro

Todos esperamos que seja a última, mas esta não foi a primeira tragédia japonesa. Tampouco é a estreia do país em catástrofes nucleares. A terra ainda não parou de tremer, não se contaram os mortos, a radiação faz sua viagem silenciosa e ameaçadora pelas ruas ainda sujas das cidades. No curto prazo ainda virão uma grave recessão econômica, frio e mortes. Se o dia 11 de março de 2011 mudou a história daquele país, que ninguém se surpreenda que vem por aí mais um capítulo de superação. Se existe um país que sabe fazer da crise uma oportunidade, este é o Japão.

Ali – desde os tempos dos samurais aos atuais deslizes de conduta – se morre de vergonha, literalmente. Princípios como a honra, respeito ao próximo, hierarquia e tradição são passados de geração a geração até os pequeninos que hoje assistimos de nossos sofás, com seus olhos assustados. Vimos nos jornais e na TV os diretores da Tokyo Eletric Power Company – concessionária de energia elétrica – se curvarem em sinal de desculpas pelo acidente no complexo nuclear de Fukushima. Impensável tal gesto – pelo motivo que fosse – repetido por nossos gananciosos empresários e corruptos políticos.

Seria desnecessário discorrer sobre os códigos de honra que determinaram a vida e morte de samurais – por harakiri – ou kamikazes durante a Segunda Guerra Mundial. Mas são dois exemplos de que este é um povo que conhece suas leis. Respeitam-se as diferentes religiões – Budismo e Xintoísmo – dominantes. Alguns praticam as duas ao mesmo tempo – num sincretismo que conhecemos bem por aqui.

Foi a devastação nuclear em Nagasaki e Hiroshima, em agosto de 1945, que determinou a rendição incondicional do imperador Hirohito. Três meses depois, o governo japonês criou um plano para reconstruir 119 cidades destruídas pela guerra. Menos de duas décadas depois, o país já despontava como uma das potências econômicas mundiais e depois atingiu o posto de segunda maior economia do planeta – posto que perdeu em 2010 para a China. Nagasaki e Hiroshima são modernas e em nada lembram a catástrofe – a não ser em museus e memoriais.

Também de nossas poltronas assistimos, em 95, ao terremoto que devastou a cidade de Kobe matando 6.434 pessoas. Dizem os especialistas que ocorrem tremores quase que diários no Japão. A terceira maior metrópole do país já foi toda reconstruída mas – aqui vai um conselho – não relembre o terremoto ali. O acidente ainda é recente e todos perderam pelo menos um ente querido no episódio.

Professor de Economia da UFF e consultor associado ao Instituto Millenium, Claudio Consídera acredita que, após o natural período recessivo, virá um novo tempo: “Num segundo momento, em dois trimestres, pelo menos, inicia-se um período de reconstrução que fará com que o PIB japonês tenha altas taxas de crescimento, por pelo menos quatro anos”, avalia. Por diversos motivos, ele não acredita em uma reedição de imigração japonesa para o Brasil. “Atualmente há várias restrições – inclusive diplomáticas – a isso”, conclui.

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