Um desafio Latino - americano



O desafio latino-americano de Barack Obama

Em abril de 2009, logo após assumir a presidência dos Estados Unidos, Barack Obama compareceu à 34ª Cúpula das Américas, em Trinidad, onde encantou os chefes de Estado presentes – inclusive o presidente venezuelano Hugo Chávez – com um discurso que pregava a transformação da relação, muitas vezes turbulenta, entre os Estados Unidos e seus vizinhos em uma “parceria igualitária”. Dois anos mais tarde, Obama continua imensamente popular entre os latino-americanos. Mas enquanto se prepara na sua primeira visita oficial á América do Sul neste fim de semana, o presidente norte-americano poderá ter dificuldades em se livrar de um familiar senso de frustração mútua.

Primeiramente, a mente de Obama certamente estará em outra parte, na disputa orçamentária em Washington e nos eventos do mundo árabe e do Japão. Em algum momento, passar um fim de semana assistindo a espetáculos de música e dança em uma favela pode ter soado como uma boa idéia, mas para seus opositores domésticos pode não ser o caso.

Para muitos na América do Sul, os Estados Unidos deixaram de ser a única grande potência mundial (se é que um dia foram). O comércio com a China está se expandindo, e muitos países sul-americanos estão confiantes de que podem deixar sua própria marca no mundo. Isso é especialmente verdadeiro no caso do Brasil, a etapa mais importante da visita de Obama.

As relações entre os dois países vem há muito tempo sendo rodeada de pequenas desavenças. Mas em 2010, essas desavenças atingiram um novo nível quando o Brasil, juntamente com a Turquia, votou contra a resolução das Nações Unidas que imporia sanções ao programa nuclear do Irã. Lula, o então presidente do Brasil, havia anteriormente tentado fechar um negócio com os iranianos.

A nova presidente do Brasil, Dilma Rousseff é uma discípula de Lula. Mas diplomatas norte-americanos estão esperançosos com sinais de que ela quer seguir seu próprio caminho. Dilma se distanciou do Irã, afirmando que não concordou com a posição do Brasil, que não condenou o histórico de violações dos direitos humanos no país. Em uma equipe que ainda mantém, muitas das figuras do governo Lula, uma mudança se destaca: Celso Amorim, fortemente ligado à aventura iraniana, foi substituído no ministério das relações exteriores por Antonio Patriota, um ex-embaixador nos Estados Unidos, casado com uma norte-americana.

Obama e Dilma têm assuntos potencialmente importantes a tratar. Eles assinarão acordos de cooperação científica e reconhecimento mútuo de patentes. Além disso, a dupla deve tratar de temas mais espinhosos. Obama quer aumentar as oportunidades para as empresas norte-americanas. Os Estados Unidos têm um superávit crescente nas relações comerciais com o Brasil, e a Casa Branca está promovendo a visita como parte de seus esforços para reanimar a economia nacional. Embora Dilma tenha adiado uma compra de caças norte-americanos avaliados em US$ 6 bilhões, Obama tentará promover os aviões Boeing F-18 (ao invés dos Frances Rafale). Os brasileiros querem tecnologia transferida na negociação e também querem vender aos norte-americanos seus próprios aviões militares.

Os norte-americanos gostariam que o Brasil apoiasse seus pedidos para que a China reavalie o yuan, embora os legisladores brasileiros também culpem a flexível política monetária da Reserva Federal pela supervalorização do real. O Brasil quer que os Estados Unidos dêem um fim a seus subsídios aos ineficazes produtores de etanol de milho, o que abriria o mercado para o etanol brasileiro, feito a partir da cana de açúcar.

O Brasil depende do apoio norte-americano em sua busca por uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU. Em novembro, Obama deu apoio explícito ao pedido da Índia, mas a desconfiança gerada pela aproximação de Lula do Irã significa que o mais longe que o governo norte-americano chegou nessa questão foi dizer que “admira a crescente liderança global do Brasil e sua aspiração a um lugar permanente”, como declarou a Secretária de Estado, Hillary Clinton, no mês passado.

A parada seguinte de Obama, no Chile, tratará de um acordo de cooperação nuclear. Mas o Chile, sujeito a terremotos e tsunamis, está reconsiderando o uso da energia nuclear. A última parada de Obama é em El Salvador. Seu presidente, Mauricio Funes, é um esquerdista moderado e pró-Estados Unidos, e a América Central está assolada pela violência.

Em Santiago, Obama fará um discurso expondo sua visão sobre as relações com a América Latina. Não será uma tarefa fácil. As questões mais importantes ao sul da fronteira são a imigração, maneiras de diminuir a demanda norte-americana de drogas e armas, a expansão comercial e o fim do embargo norte-americano contra Cuba. E em todas elas o presidente está empacado, graças às disputas políticas de Washington.

Os Estados Unidos ainda são muito importantes para a América Latina em diversos aspectos. A própria história de vida de Obama é muito inspiradora numa região em que negros e índios frequentemente estão em situação de desvantagem. Ele pode ser uma poderosa voz na defesa da democracia e dos direitos humanos. Mas a menos que suas palavras venham acompanhadas de atos, seu apelo para a população latino-americana pode desaparecer.

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