Saúde
O isolamento pode ser ruim para sua saúde
A ciência possui diversos usos, mas nem sempre produz linhas convenientes. Pesquisas recentes sobre genética sugeriram uma forma de iniciar uma conversa com um estranho solitário em um bar: o isolamento pode fazer mal.
Pessoas solitárias, ao que parece, estão sujeitas a maiores riscos de desenvolvimento de doenças associadas à inflamação crônica, como algumas doenças cardíacas e alguns tipos de câncer. De acordo com um artigo publicado no último ano, na Biblioteca Pública de Ciência e Medicina, o efeito da solidão é comparável aos efeitos do fumo e bebida.
O grupo examinou e combinou os resultados de 148 estudos anteriores, que seguiram cerca de 300 mil indivíduos por um período de 7,5 anos, controlados por fatores como idade e doenças pré-existentes. Durante esse período, concluiu-se que uma pessoa normal tem 50% a mais de chances de sobreviver do que um solitário.
Steven Cole, da Universidade da California, em Los Angeles, acredita saber por que isso ocorre. Steven coletou amostras simples das células brancas do sangue de duas pessoas, uma sociável e uma solitária. Ele então analisou a atividade destes genes, medida pela produção de uma substância chamada RNA mensageiro. Essa molécula carrega instruções dos genes às células dizendo o que as proteínas devem fazer. O nível de RNA mensageiro foi o mesmo nos dois tipos de pessoas. Havia dezenas de genes, no entanto, que eram menos ativos nos solitários, e dezenas de outros que eram mais ativos. Além disso, tanto os menos ativos como os mais ativos originaram-se de um pequeno número de grupos funcionais.
De um modo geral, os genes menos ativos nos solitários eram envolvidos em protelar infecções virais. Os que eram mais ativos eram envolvidos na proteção contra as bactérias. Dr. Steven acredita que isso pode explicar não apenas porque os solitários são mais propensos a doenças, mas também como, em termos evolucionários, este estranho estado de relações vem à tona. Para uma inflamação ocorrer, ocorre uma resposta anti-bacteriana.
A parte principal deste quebra-cabeça é que os vírus são adquiridos através de outras pessoas infectadas e eles normalmente são espécies específicas. As bactérias normalmente apenas se escondem no ambiente e podem prosperar em muitos hospedeiros. Os sociáveis possuem, portanto, um risco maior do que os solitários de pegar doenças virais. Dr. Cole sugere, assim, que a evolução do passado criou um mecanismo que faz com que os glóbulos brancos respondam apropriadamente. Por outro lado, a solidão é a melhor forma de iniciar sua proteção contra uma infecção bacteriana, que é um risco relativamente maior para eles.
O que o medico revelou, então, foi um mecanismo pelo qual o meio ambiente chega ao corpo de uma pessoa e ajusta seu genoma para que ele responda de forma adequada. Os sociáveis e solitários não são geneticamente diferentes. Ao contrário, seus genes são regulados de forma diferente, de acordo com o quão sociável o indivíduo é. O mecanismo ajusta as pessoas às circunstâncias particulares que ela encontra. Quando algo dá errado é quando a solidão se torna crônica, e a inflamação responde tornando-se crônica ao mesmo tempo.
Antes da civilização intervir, a solidão crônica era tão rara que a evolução a teria ignorado. Agora, paradoxalmente, a maior parte da população, que a civilização transformou em possíveis solitários, está em um lugar comum — e com suas consequências da seleção natural, que não enxerga o futuro, ainda não teve tempo para lidar com eles.
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