Cinema...Flores do Oriente, de Zhang Yimou

Conflito de civilizações mostra viés moralista

'Flores do Oriente' (Fonte: Reprodução/Divulgação)

Após mostrar a maravilhosa face do cinema chinês para o Ocidente com Lanternas Vermelhas (1991), o diretor Zhang Yimou nunca mais surpreendeu, abraçando os cânones do cinema clássico. Realizou o bom O Clã das Adagas Voadoras (2004) e o fraco Herói (2002), filmes de época marcados por uma direção de arte e fotografia irrepreensíveis, além de planos excessivamente clássicos, sem ousadia.

Neste Flores do Oriente (Flowers of War), não é diferente. Apesar da magnífica reconstituição da invasão japonesa na China em 1934, com a capital Nanquim destruída por bombardeios, o filme conta uma história que pretende emocionar mas não emociona: um internato católico, com uma série de estudantes meninas, vira alvo da sede dos japoneses por virgens como troféus de guerra. Para salvar as meninas, aparecem um soldado chinês, um agente funerário (Christian Bale em uma atuação insípida), e luxuosas prostitutas, que se escondem no porão da escola.

Depois de uma série de peripécias e acontecimentos, as meninas, que haviam sido poupadas até então pela bondade de um oficial japonês, são chamadas para cantar em uma comemoração do exército inimigo. Com a certeza de que o objetivo dos japoneses vai além de ouvir um coro de canções católicas, as vítimas arquitetam um plano de fuga, onde as prostitutas se sacrificam, tomando o lugar das meninas.

A moral da história mostra, em primeiro lugar, como o ser humano pode se redimir: tanto o agente funerário, um bêbado e devasso, como as prostitutas mostram a sua face de bondade ao cuidar das virgens indefesas. Ele se faz passar por padre, defendendo as internas; já as mulheres da vida, mais do que isso, se sacrificam pelas meninas.

Assim como o bem vence o mal na trama, onde os personagens percorrem um caminho de redenção, o cinema de Yimou também parece tender para o lado do belo, comportado, e politicamente correto. As cenas de ação, os enquadramentos, as cores, tudo parece perfeitamente arquitetado para mostrar uma estética absolutamente comportada, perfeita, que ao mesmo tempo não toca, não atinge o espectador.

Um dos fatores que possivelmente colaboram para isso, é a múltipla linguagem do filme, que mistura o chinês, inglês e japonês. Em meio a um épico dessa natureza, que visa denunciar os horrores da guerra e, mais do que isso, a incapacidade entre as civilizações de admitir a existência do OUTRO, daquele que é diferente de nós, o espectador não cria empatia com a história.

A fricção das ideias ocidentais com as da Ásia Oriental nem sempre foi suave. É só pensar na adoção pelos historiadores chineses e japoneses, a partir da segunda metade do XIX, de uma historiografia ocidental, ameaçando milhares de anos de tradição cultural. O sistema de mundo dessas civilizações foi gravemente ameaçado, e transformado, pelo poder das ideias universais (que no fundo são absolutamente provincianas) do Ocidente.

Agora, com o progressivo crescimento principalmente da China, o sentido de influência deve se inverter. Fico imaginando, no futuro, o chinês sendo ensinado em nossas escolas, além da produção brasileira de filmes de Kung Fu!

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