Doping acadêmico é tão grave quanto o esportivo?

Estudo em universidade norte-americana mostra que estudantes não consideram o uso de estimulantes antes de exames acadêmicos como 'trapaça'

Doping acadêmico é considerado menos antiético que o uso de anabolizantes no esporte (Chris Ryan/Getty Images)

Tomar drogas que aumentam seu desempenho é considerado algo antiético tanto nos esportes competitivos, quanto nas atividades acadêmicas. Mas esses dois cenários podem ser comparados? Um novo estudo, comandado pela psicóloga Tonya Dodge, da George Washington University, tentou determinar como a população se sente quanto à ética relativa.

Cerca de 1200 estudantes no primeiro ano da Penn State University analisaram dois cenários: um no qual atletas tomavam esteroides anabolizantes para melhorar seu tempo nas pistas de corrida e outro no qual um estudante tomava um estimulante semelhante ao Adderall para melhorar seu desempenho em um teste. Os resultados mostram que os estudantes consideram o uso de esteroides nos esportes menos ético que o uso de estimulantes para melhorar o desempenho acadêmico.

De acordo com os pesquisadores, a percepção geral é a de que esportes são jogos de vitória e derrota, enquanto um bom desempenho em um teste não traz revés algum a qualquer outro estudante. Além disso, a maioria dos entrevistados tinha mais familiaridade com estimulantes receitados (cerca de 8% disseram ter feito uso da droga no ano passado) do que com esteroides anabolizantes (menos de 1% dos estudantes confessou ter usado esteroides em qualquer momento de suas vidas). Estudantes que utilizaram estimulantes sem receita ou que praticaram esportes estavam mais inclinados a classificar o doping esportivo como algo pior do que o doping acadêmico.

O resultado já era previsto pelos pesquisadores, já que as diferenças na competitividade fariam com que o uso esportivo dos esteroides fosse visto como uma manobra mais necessária para alcançar a vitória do que o uso de estimulantes no desempenho acadêmico. Mas no fim, a verdade é exatamente o oposto.

Os estudantes entrevistados afirmaram acreditar que o uso de estimulantes era mais necessário para os exames acadêmicos do que o uso de esteroides para a vitória nos esportes. Isso se deve à crença de que a inteligência é muito mais imutável que a habilidade atlética – ou seja, que drogas usadas para o aumento cognitivo suprem uma deficiência que não pode ser superada com o esforço, enquanto no esporte, tudo o que os atletas precisariam seria treinos mais intensivos.

De acordo com os estudos, as implicações das descobertas se dividem em duas frentes. Em primeiro lugar, as intervenções que ensinam aos alunos que o uso de drogas para melhorar o desempenho acadêmico é desonesto e antiético pode levar a reduções de tais abusos. Em segundo lugar, ensinar aos estudantes que a inteligência pode responder à prática, assim como os músculos fazem – uma ideia cada vez mais apoiada pela investigação – também poderia ajudar.

Há uma terceira implicação que pode ser considerada, no entanto. Se uma droga cognitiva fosse aprovada para aumentar o desempenho de maneira segura, e disponibilizada a todos os interessados, por que seu uso deveria ser visto como trapaça? Um medicamento que aumentasse o desempenho cognitivo humano – permitindo que os alunos aprendessem mais, que médicos encontrassem curas mais rapidamente, e que os engenheiros projetem tecnologias melhores – e não ferisse os outros, não seria necessariamente uma coisa ruim.

Slate

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