CONSERVADORISMO ALÉM-MAR

Portugal terá ‘ideologia de gênero’ e ‘marxismo cultural’ nas próximas eleições

Partidos de centro-direito formaram coligação para disputar as eleições (Foto: Pixabay)

“O importante é combater a ideologia de gênero e o marxismo cultural”. Não, não se trata de uma fala, um tuíte ou um áudio de Whatsapp da parte do chanceler Ernesto Araújo, do vereador Carlos Bolsonaro, do seu irmão Eduardo (embaixador no Brasil do movimento direitista internacional “O Movimento”), ou do próprio presidente da República, Jair Messias Bolsonaro.

Não se trata de aspas de nenhum deles, não essas, publicadas na imprensa no último 14 de fevereiro, por mais que tenham sido dadas em português.

Quem disse o que disse em além-mar sobre “ideologia de gênero” e “marxismo cultural”, expressões caras ao governo brasileiro de turno – e cujo manejo, por assim dizer, entre o de outras ideias, levou Jair Bolsonaro ao poder – foi um político chamado Manuel Matias, líder do Partido Cidadania e Democracia Cristã (PCDC), que acaba de anunciar que irá cerrar fileiras com outros dois partidos, o Chega e o Democracia 21, numa “frente de centro direita” para disputar as próximas eleições europeias, marcadas para o fim de maio.

Ou “coligação anti-sistema”, como preferem dizer alguns dos seus artífices. Matias contou ao Público o que, para ele, é o que importa (combater a “ideologia de gênero” e o “marxismo cultural”) porque o jornal o confrontou com o fato de que o partido Chega defende bandeiras antagônicas à doutrina social da Igreja Católica, que o PCDC encampa, como a prisão perpétua ou a castração química de pedófilos.

Até as fortes contradições no seio dos “anti-sistema” de direita, portanto, lembram o Brasil dos tempos hodiernos. O que não lembrou o Brasil foi a forma como as instituições portuguesas reagiram, energicamente, conforme este Opinião e Notícia contou, quando em janeiro uma conhecida figura da extrema-direita em Portugal foi convidado para dar uma entrevista num programa de TV sob a apresentação “autor de declarações polêmicas”.

‘Bolsonaro português’

Mario Machado, além de dar “declarações polêmicas”, é um criminoso condenado por roubo, sequestro, coação e participação no assassinato de um homem cabo-verdiano – um crime de ódio. Se, por aqui, há quem homenageia Carlos Alberto Brilhante Ustra, lá, em Portugal, Mário Machado liderou um ato em Lisboa, no último 1º de fevereiro, nas cercanias da Assembleia da República, em homenagem a Oliveira Salazar. Tinha 40 gatos pingados. Mas não eram quatro – tipo os cruzados contra a “ideologia de gênero” e o “marxismo cultural” já são uma coligação.

E, para quem acha que coincidência pouca é bobagem, Manuel Matias decreta que Portugal, Portugal também, “tem que ser salvo”. Portugal, liderado por um governo de esquerda, tem sido apontado como exemplo de superação da crise econômica sem sujeição absoluta às exigências de ajuste de instâncias como a União Europeia e o FMI.

Mas, como o próprio nome diz, estamos às voltas com um “movimento” internacional, seja aquele sistematizado, organizado, planejado, como “O Movimento”, idealizado pelo “estrategista” e “assessor político” Steve Bannon, seja, digamos, “o espírito do tempo”. Vide a ascensão da extrema-direita na vizinha Espanha.

Já o líder do partido Chega, aquele, da “coligação anti-sistema”, André Ventura, foi apelidado pela imprensa de Lisboa como o “Bolsonaro português”. Sobre isso, e sobre defender abertamente isso ou aquilo, ele disse o seguinte:

“Nós procuramos vivamente combater estes estereótipos. Nós podíamos ter aqui jogadas de bastidores relativamente à castração química dos pedófilos, ou relativamente à prisão perpétua e dizer: ‘bom, não é bem isto que nós defendemos’. Não, nós defendemos isto e, ao defendermos isto, é preciso coragem. Populista ou não é o que defendemos. E não, não sou o Bolsonaro português. O Chega não tem nada de Bolsonaro, o Chega é português, nasce para lutar por Portugal e vai lutar por Portugal”.Hugo Souza

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