ITÁLIA MÁFIA

Itália mira em imigração e deixa máfia em segundo plano

Centenas de refugiados foram retirados à força dos centros de acolhimento (Foto: Max Pexl)

Nos últimos anos, o clã Casalesi da máfia Camorra ganhou bilhões de euros enterrando mais de 150 mil metros cúbicos de lixo tóxico na região rural ao norte de Nápoles. Mas os Casalesi continuam impunes.

Na noite de 7 de fevereiro, quando 90 policiais cercaram vários prédios de apartamentos em Caserta, na região da Campania, muitos moradores pensaram que se tratava de uma operação policial para prender os mafiosos da cidade. Mas, na verdade, era uma inspeção sanitária em casas de imigrantes.

Desde que Matteo Salvini, líder do partido de extrema-direita Liga, assumiu o cargo de ministro do Interior em junho de 2018, os imigrantes tornaram-se o alvo prioritário do governo. O senador Pietro Grasso, membro da Comissão Parlamentar Antimáfia e ex-promotor responsável pela prisão em 2006 do chefe da máfia siciliana, Bernardo Provenzano, disse: “Infelizmente, no momento o governo italiano concentra sua atenção na questão da imigração, em vez de abordar problemas muito mais graves, como a ação da máfia.”

Em Catânia, a fortaleza siciliana do poderoso clã Santapaola, os promotores estão investigando os barcos de resgate de organizações não governamentais, um deles apreendido em novembro por suspeita de que as roupas de refugiados vindos da Líbia estavam contaminadas com o vírus HIV.

Em Riace, na região da Calábria, controlada pela ‘Ndrangheta, a organização mafiosa responsável por grande parte do tráfico de cocaína na Europa, Mimmo Lucano, um prefeito antimáfia, que revitalizou a comunidade com o acolhimento de refugiados, está sendo investigado desde outubro por suspeita de ajuda à imigração ilegal. Lucano tem recebido ameaças constantes de morte de mafiosos, que envenenaram dois de seus cães.

Nos últimos oito meses, quase 250 das mensagens de Salvini no Twitter abordaram a questão da imigração, enquanto as postagens sobre o crime organizado limitaram-se a apenas 60.

Nicola Gratteri, um dos mais respeitados promotores antimáfia da Itália, criticou Salvini: “Desde que assumiu o Ministério do Interior, Salvini concentra sua atenção ao problema da imigração. A atuação da máfia foi relegada a um segundo plano.As prisões em dezembro de 90 pessoas na Europa e na América do Sul acusadas de ligações com a ‘Ndrangheta foram resultado de investigações que começaram antes de seu mandato.”

Após a aprovação pelo parlamento do decreto de Segurança e Imigração elaborado por Salvini, centenas de refugiados foram retirados à força dos centros de acolhimento. Muitos estão desabrigados. O decreto eliminou os vistos de residência humanitários concedidos a pessoas consideradas vulneráveis e suspendeu o pedido de asilo de refugiados vistos como uma ameaça à sociedade.

Segundo Claudio Fava, presidente da Comissão Antimáfia da Sicília, cujo pai foi assassinado por mafiosos em 1984, o decreto dedica-se quase exclusivamente à questão da imigração. “A máfia não é uma prioridade para Salvini. A única cláusula referente à máfia diz respeito ao confisco de propriedade”, observou Fava.

Nos termos da cláusula, as propriedades confiscadas de mafiosos são leiloadas após determinado tempo. Porém, na opinião de especialistas, essas propriedades podem ser compradas no leilão por testas de ferro dos chefes da máfia.

O Ministério do Interior realizou uma campanha agressiva contra a misteriosa máfia nigeriana, descrita por Salvini como muito mais perigosa do que as máfias italianas. Nos últimos meses, diversos nigerianos foram presos por suspeita de pertencerem à misteriosa máfia africana.

A relação entre as comunidades de imigrantes e o crime organizado remonta ao século XIX na Itália. Entre 1880 e 1915, 4 milhões de italianos imigraram para os EUA, alguns deles ligados à máfia, a maior organização criminosa do mundo.

Nos EUA, eles repetiram o modelo das máfias italianas e dominaram o crime organizado no país por décadas. De acordo com Mario Del Pero, professor de história internacional, o preconceito contra os italianos, ou melhor, a “italofobia”, foi um sentimento muito forte entre os americanos.

Em Caserta, a história se repete só que ao inverso. Assim como os italianos foram hostilizados nos EUA, os refugiados que procuraram asilo na Itália são tratados de maneira hostil. Moses, um imigrante nigeriano de 34 anos, teve sua casa revistada arbitrariamente pela polícia, que investiga a máfia nigeriana.“Somos pessoas excluídas da sociedade”, disse.The Guardian

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