VAZA JATO

Moro achava ‘difícil provar’ delação de Palocci, apontam mensagens

As mensagens integram o rol do conteúdo recebido pelo portal ‘Intercept Brasil’ (Foto:Isaac Amorim/MJSP)

Diálogos atribuídos a procuradores da Operação Lava Jato, divulgados nesta segunda-feira, 29, pela Folha de S.Paulo, apontam que o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, decidiu divulgar parte da delação do ex-ministro Antonio Palocci, mesmo considerando a delação fraca e difícil de provar.

As mensagens divulgadas pela Folha integram o rol do conteúdo obtido pelo site “Intercept Brasil”. Nas mensagens, os procuradores discutem a delação negociada por Antonio Palocci em 2018, em um acordo firmado com a Polícia Federal.

O conteúdo do depoimento foi divulgado às vésperas das eleições de 2018, o que políticos do PT criticaram, considerando uma jogada política que prejudicaria as chances do partido no pleito.

“Russo comentou que embora seja difícil provar ele [Palocci] é o único que quebrou a omerta petista”, comentou o procurador Paulo Roberto Galvão, em um grupo do Telegram, em conversas com outros procuradores. A mensagem faz referência ao apelido de Moro – Russo – e ao código de honra de mafiosos italianos chamado “Omertà”.

O diálogo entre os procuradores indicava que o depoimento de Palocci era difícil de ser comprovado. Porém, mesmo assim, foi divulgado. “Não só é difícil provar, como é impossível extrair algo da delação dele”, destacou a procuradora Laura Tessler, que teve o comentário acompanhado por outros colegas.

Apesar do conteúdo de Palocci ser considerado medíocre, a delação interessava pela proximidade do ex-ministro com o ex-presidente Lula. O depoimento foi divulgado no dia 1º de outubro, uma semana depois do comentário feito por Galvão e menos de uma semana antes do primeiro turno das eleições. Na delação, Palocci afirmou que Lula havia autorizado o loteamento da Petrobras.

Palocci disse na delação que o ex-presidente sabia que os políticos envolvidos recebiam propina de empreiteiras que negociavam com a Petrobras. Já sobre as campanhas eleitorais de Dilma, para 2010 e 2014, Palocci afirmou que teriam custado o triplo do que foi divulgado, com dinheiro proveniente de caixa dois.

Na ocasião da divulgação da delação, Moro teve de se defender perante o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) de acusações de interferência política. Na ocasião, ele afirmou que “não deve o juiz atuar como guardião de segredos sombrios de agentes políticos suspeitos de corrupção”. Em seguida, explicou que atrasar a divulgação do depoimento poderia ser “tão inapropriado” quanto a sua divulgação.

Cerca de um mês depois de apresentar as explicações ao CNJ, Moro abandonou o cargo de juiz federal e aceitou o convite do presidente Jair Bolsonaro para assumir o Ministério da Justiça e de Segurança Pública.

Apesar de não adicionar muito ao conhecimento da força-tarefa da Lava Jato, conforme afirmaram os procuradores nas supostas mensagens, a delação de Palocci teve grande cobertura midiática, com reportagens de destaque nos principais jornais do país. As últimas propagandas eleitorais do ex-presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB-SP) citaram a delação.

O acordo de delação premiada de Antonio Palocci havia sido negado pela Operação Lava Jato e pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Por isso, o pacto só foi firmado com a Polícia Federal, com o Supremo Tribunal Federal (STF) reconhecendo o direito da PF. O acordo foi homologado pelo juiz João Pedro Gebran Neto, relator da Lava Jato no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4).

Ainda contrária à homologação do acordo, a força-tarefa da Lava Jato criticou publicamente o pacto. O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima chegou a classificá-lo como “acordo do fim da picada”. Já o coordenador da Lava Jato, Deltan Dallagnol, defendeu Moro depois da divulgação das mensagens.

“Feito o acordo, creio que temos que tentar extrair o melhor dele. […] Não me parece em uma primeira reflexão boa a estratégia de negar valor sem diligências”, escreveu Dallagnol aos procuradores. Mesmo sem novas críticas públicas, os procuradores continuaram considerando fraco o depoimento de Palocci. “Deve ter mta [muita] notícia do goolge [Google] lá rs”, afirmou Dallagnol no Telegram.

Em resposta à reportagem da Folha de São Paulo, o Ministério da Justiça e a força-tarefa da Lava Jato seguiram questionando a autenticidade das mensagens divulgadas. Já o advogado de Palocci, Tracy Reinaldet, afirmou que a efetividade da delação do ex-ministro foi reconhecida em diferentes instâncias.

Oposição x situação

A nova fase de divulgações das mensagens obtidas pelo “Intercept Brasil”, expôs, mais uma vez, o racha político entre oposição e situação do governo Bolsonaro. De um lado, políticos da oposição criticam a divulgação da delação de Palocci, que teria ocorrido sem provas. Do outro, políticos da base governista seguem em defesa de Moro e questionando os interesses da reportagem.

As diferentes mensagens postadas nas redes sociais fizeram com que o assunto “Palocci” ficasse entre os mais comentados da manhã desta segunda-feira, 29.

O ex-presidenciável Fernando Haddad (PT-SP), que foi adversário direto de Bolsonaro em 2018, destacou que Moro “agia politicamente nas eleições. Como pode permanecer na função?”.

Já o senador Alvaro Dias (Podemos-PR), que também foi candidato à Presidência em 2018, saiu em defesa de Moro, destacando que a reportagem da Folha não conta com mensagens do então juiz federal. “A Folha de S.Paulo voltou a divulgar mensagens roubadas por estelionatários, e fala de atitudes de Moro sem que haja uma só mensagem do então juiz (a conclusão do jornal parte de um único comentário de procurador). Qual o interesse do jornal?”, questionou o parlamentar.

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