DEUS - Segundo fontes...Ele não estava no Congresso

Jornalista entrevista Deus, que jura: eu não estava na Câmara


Ayrton Centeno - O Todo-Poderoso resolveu abrir os flocos de sua nuvem para nós. A ele chegamos por intercessão do Papa Francisco. Chico, como o chamamos, contou que ao Todo que queríamos confirmar a sua ausência do plenário da Câmara dos Deputados, apesar das reiteradas invocações dos deputados evangélicos, carismáticos, quadrangulares, hexagonais e maria-vai-com-as-outras de diversa extração. Ao chegar à Grande Nuvem, notei que ali apenas havia um idoso de barba por fazer, trajando bermudas, camiseta desbotada e chinelos de dedo.

Perguntei a ele se não vira um sujeito grande e gordo, de imensas barbas, camisolão branco e com uma auréola na cabeça. Espalitando os dentes, olhou pra mim e indagou “O que você quer com ele?” Expliquei. E ele: “Pois está falando com o próprio, meu filho”. Perguntei-lhe: “Se você é Deus, diga agora quanto dinheiro tenho nos meus bolsos”, respondi em tom de desafio. “Nada”, retrucou na tampa. “Como?”, balbuciei. “É fácil. Se você é da imprensa alternativa, é claro que é um pelado”. A caneta tremia nas minhas mãos.

P) Vamos começar por sua aparência. Quando olhei o Senhor, me pareceu meu amigo Wagner que, dia desses, confundi com um flanelinha e até lhe dei um pila quando veio falar comigo…

Todo) Vamos deixar de Senhoria. Por aqui a turma me chama de Todo. Quando à roupa, é resultado de minha opção preferencial pelos pobres. Aquele gordão que você vê nos quadros é invenção da cachola dos renascentistas. Que me pintaram olhando pro pai deles. Sabe, aquele lance do Freud…

P) Freud?

Todo) Sim, o velho e bom Sigmund. Aquilo da mistura de medo e respeito frente à figura paterna. Aprendi muito com ele. Ali acertei em cheio. Anda por aí. Volta e meia nos encontramos para trocar umas ideias. Brincamos de Id, Ego e Superego. E rimos muito olhando lá para baixo.

P) Por falar em rir, o que o Senh.. digo você achou da votação do impeachment na Câmara?

Todo) Sabe aquilo que chamam “vergonha pelo outro”? Pois é. Ponha-se no meu lugar e imagine o meu fracasso. Fui pra nuvem mais cedo e tapei a cabeça com pena de mim mesmo. Onde foi que errei? Suspeito que, no dia em que criei aquelas cavalgaduras, tinha tomado um porre de hidromel…

P) Hidromel?

Todo) Sim, hidromel, a bebida dos deuses.

P) Muitos deles chamaram o Senh…quero dizer você pro plenário…

Todo) E eu sou louco? Olha pra minha cara? Além do mais, como diz o Grouxo Marx, “não frequento clubes que me aceitam como sócio…” O Grouxo é outro que, vez em quando, eu encontro para dar um pouco de risada. No dia em que criei os Marx eu estava com bola toda…

P) Todos os Marx?

Todo) Sim, o Grouxo, o Chico, o Harpo…Só não gosto daquele que só cantava…Mas você, claro, quer saber, do outro Marx, o Karl. Baita orgulho de pai, mesmo com o filho me renegando. Outro dia perfeito. Um daqueles em que eu estava irrepreensível. Nos trinques da criação. Aliás, curei aqueles furúnculos da bunda dele. Também conversamos, olhamos lá pra baixo e sacudimos a cabeça em desaprovação.

P) Então vocês são amigos?

Todo) Somos amigos de cagar juntos. E proseando. Mas sem demorar muito pra não atrair as mutucas. Ele continua aquela cabeça poderosíssima, um crítico ferrenho. Meu, inclusive. Me acusa de ter criado o Pinochet, o Fleury, o Bolsonaro, o Hitler. Explico que nem sempre o resultado final é aquele que a gente programou. Acorda num dia ruim, com dor de dente ou caganeira, vai contrariado pro trabalho e a consequência é um lixo. Defeito de fabricação, sabe? E não tem recall. Aí, ele lembra o Médici, o Brilhante Ustra, o Videla…Então, perco a paciência e digo: “Péra aí! E o Roberto Freire, hein? E o Aluízio Nunes? Eles são da tua conta!

P) Então a raça humana é um caso perdido?

Todo) Você tem alguma dúvida? Tem? Então, reveja aquela quermesse de monstros na Câmara e caia na real, meu filho. Pra ser um circo não faltou nada. Nem o palhaço. Como canta o Caetano, “Porém, a raça humana/Segue trágica, sempre…”

P) Voltando à votação, queria insistir num ponto. Saber mais das suas razões para não comparecer ao recinto…

Todo) Não fui porque eu já tinha combinado tudo com o Lulu…

P) Lulu?

Todo) Lulu, meu confrade, o anjo decaído, Lúcifer…

P) O Todo não compareceu porque Lúcifer, o demônio, estava lá?

Todo) O tempo inteiro. Aquilo ali é uma reserva de mercado do Lulu. Parte é franqueado dele. Tirando uns e outros, todos estão na sua folha de pagamento. E devem a alma a ele. Como não me meto nos negócios dos outros…

P) Mas todos chamavam por você e não pelo…âhn… Lulu…

Todo) Ah, minha criança…Vejo que você é mais um repórter declaratório. Ouve a resposta e publica aquilo sem pensar no que está por trás. Uma coisa é o que a boca fala, outra o que vai por dentro do sujeito. E, não esqueça, eu enxergo o que vai dentro e não se mostra. E como você comprovou, eu também posso ver o que tem nos bolsos. E digo a você, minha criança: ali havia muita cabeça vazia e muito bolso cheio. Onisciência, saca?

P) É mesmo. E ninguém chamou pelo diabo…

Todo) Mas havia cheiro de enxofre vindo da presidência da mesa. Lembra?

P) Verdade. Mas o que diz do Cunha que pediu que o Senh… você tivesse piedade do Brasil.

Todo) Bem, o Cunha é da conta do Lulu. Ele e a turma dele. Então deve conversar com o Lulu pra pedir misericórdia. Mas eu, você e toda a torcida do Flamengo sabemos que misericórdia e Lulu não cabem na mesma frase. A propósito, Lulu me confidenciou que já tá esperando o Cunha. Preparou uma piscina de chumbo derretido pra recebê-lo. Vai tomar banho com o Mussolini. O pior de tudo é que o Mussolini canta ópera enquanto se banha e se derrete.

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