COMPORTAMENTO POLIGAMIA

Estudo associa poligamia às guerras e ao extremismo

Sem uma alternativa viável, muitos homens solteiros recorrem a medidas extremas para se casarem (Foto: Reuters)

Poucos habitantes do Sudão do Sul associam a violenta guerra civil no país à poligamia. A guerra, dizem, é resultado da ganância dos políticos ou da hostilidade das tribos vizinhas. Em parte têm razão, porque a corrupção, as instituições políticas fracas e os conflitos tribais estimulam a violência. Mas os costumes conjugais também instigam atos violentos. Os lugares onde a poligamia é uma prática comum, como no Sudão do Sul, onde 40% dos casamentos são poligâmicos, o clima hostil é maior.

Os 20 países mais instáveis do ponto de vista político e social do mundo são poligâmicos. Os países poligâmicos têm um comportamento mais agressivo em relação aos seus vizinhos. As regiões poligâmicas do Haiti e da Indonésia são as mais turbulentas. Um estudo da London School of Economics mostrou um forte vínculo entre a união conjugal de um homem com várias mulheres e a guerra civil. Por quê?

Em geral, na poligamia os homens ricos casam com diversas esposas. Assim, se 10% dos homens mais poderosos casarem com quatro mulheres, 30% ficarão solteiros. O fato de não se casarem não só causa uma frustração sexual, como também os marginaliza socialmente. Em muitas sociedades tradicionais, um homem só é considerado adulto ao se casar e ter filhos. Em alguns lugares é exigido o pagamento de um dote ao pai da noiva. A escassez de mulheres causada pela poligamia aumenta o preço do dote. No Sudão do Sul, o dote varia entre 30 a 300 cabeças de gado, um preço impossível de ser pago por um jovem pouco instruído por meios honestos.

Sem uma alternativa viável, muitos homens solteiros recorrem a medidas extremas para se casarem. No Sudão do Sul, eles roubam gado da tribo vizinha, o que gera conflitos às vezes fatais. Jovens solteiros também são alvos fáceis de recrutamento de milícias rebeldes. Se lutarem ao lado dos grupos extremistas, eles podem dividir o lucro dos saques e, assim, ganham dinheiro para pagar o dote aos pais das possíveis noivas.

Em um artigo publicado no ano passado, Valerie Hudson, da Universidade do Texas A&M, e Hilary Matfess, da Universidade de Yale, mostraram que o alto custo do dote predispunha os jovens a se envolverem com grupos radicais. Um membro da organização terrorista Lashkar-e-Taiba do Paquistão, responsável pelo atentado em Mumbai em 2008 que matou 166 pessoas, disse que aderiu à organização em troca da promessa de pagamento de uma determinada quantia aos seus irmãos para que pudessem se casar. No auge do poder do Estado Islâmico no Oriente Médio, seus líderes ofereciam aos combatentes estrangeiros uma lua de mel em Raqqa, a capital de seu autoproclamado califado. No norte da Nigéria, onde a poligamia é comum, a organização fundamentalista islâmica Boko Haram organiza casamentos com dotes baratos para seus recrutas.

Apesar do declínio da poligamia como um costume aceito em muitas sociedades, em alguns lugares a tendência é inversa. Depois que a Suprema Corte dos Estados Unidos legalizou o casamento entre pessoas do mesmo sexo em 2015, muitos disseram que as uniões poligâmicas também seriam legalizadas. De acordo com a pesquisa da Gallup, a proporção dos americanos que consideram a poligamia moralmente aceitável subiu de 5% em 2006 para 17% no ano passado.

Ativistas no Quirguistão, Turcomenistão e outros países da Ásia Central estão tentando restabelecer o direito dos homens de casarem com várias esposas. No Cazaquistão, um projeto de lei não foi aprovado em 2008, devido a uma emenda de uma deputada permitindo também a prática legal da poliandria. Os que defendem esse costume afirmam que a poligamia promove a harmonia social, ao dar aos maridos o direito legítimo de terem relações sexuais com outras mulheres em uma união conjugal. Não é uma teoria que se justifica em lugares como o Sudão do Sul, Afeganistão e norte da Nigéria onde as tensões são explosivas.The Economist

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