GOVERNO DESPÓTICO

Democracia em risco na Tanzânia

Países africanos assistem em silêncio ao desmoronamento de um regime democrático estável (Foto: Pixabay)

Até pouco tempo, a estabilidade política da Tanzânia atraía investidores e doadores, o que estimulou um rápido crescimento econômico. Mas o governo despótico do presidente John Magufuli, em seu terceiro ano de mandato, ameaça destruir as conquistas da Tanzânia nas últimas décadas. A repressão aos protestos contra o governo é brutal. Os políticos da oposição são assassinados; ativistas e jornalistas desaparecem sistematicamente.

A Tanzânia ocupa um lugar especial na história do continente africano devido ao papel desempenhado pelo primeiro-ministro Julius Nyerere, um dos primeiros líderes africanos do período pós-colonial. Os tanzanianos ainda o chamam com carinho de Mwalimu ou “professor”. Como muitos outros líderes da época, ele era um autocrata, que instituiu um regime de partido único, porque, em suas palavras, a democracia era “um passatempo sofisticado demais para a África”. Ele empobreceu uma geração com seu modelo de “socialismo africano”. Nyerere privatizou empresas e obrigou milhões de tanzanianos a trabalharem em fazendas coletivas. E para impedi-los de voltar ele incendiava suas casas. O resultado foi fome e caos econômico.

Ainda assim, ele procurou unir seu país em uma região onde muitos líderes se mantinham no poder fomentando os conflitos tribais. Em geral, foi menos despótico do que muitos de seus pares. Com sua decisão de enviar tropas à Uganda, o país libertou-se de Idi Amin, um dos ditadores mais cruéis do mundo.

A partir de 1994, o governo democrático da Tanzânia atraiu investimentos estrangeiros equivalentes a 4% do PIB por ano. O país registrou um crescimento econômico em torno de 6,5% ao ano na última década. A renda per capita do país duplicou em comparação com 1990.

No entanto, esse progresso longamente conquistado está ameaçado pela política arbitrária e ditatorial de Magufuli. Os funcionários do governo cobram impostos extorsivos. As empresas estão encerrando suas atividades, as exportações diminuíram, os investimentos externos reduziram-se e o crescimento econômico sofreu uma desaceleração.

Os países africanos assistem em silêncio ao desmoronamento de um regime democrático estável. Há pouco tempo, os Estados Unidos e a União Europeia expressaram preocupação com a repressão política, mas não criticaram o governo, nem ameaçaram intervir. Segundo alguns diplomatas, a suspensão parcial da ajuda financeira dos EUA em 2016 não teve o efeito esperado. Funcionários de agências humanitárias temem que novos cortes prejudiquem a população de baixa renda.

Há três anos, alguns países europeus suspenderam temporariamente a ajuda financeira de US$ 500 milhões devido a um escândalo de corrupção. O governo demitiu e condenou os funcionários envolvidos em casos de subornos. A Tanzânia é o terceiro país da África que recebe mais ajuda internacional; de 10% a 15% de suas receitas originam-se dos países ocidentais. Os doadores oferecem empréstimos com juros baixos e fazem doações. O Banco Mundial aumentou a verba destinada à Tanzânia de US$ 500 milhões para US$ 2,4 bilhões.

Mas o progresso econômico e social da Tanzânia adquirido ao longo dos anos desaparecerá com a permanência de Magufuli no poder. Ainda mais importante, a indiferença de seus vizinhos incentiva a ação brutal de outros déspotas.The Economist

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