POLÍTICA X RELIGIÃO

Como a religião pode influenciar a política externa dos EUA

Pompeo, acusado de islamofobia, pode causar tensões na condução da política externa dos EUA (Foto: Flickr)

A relação entre religião e diplomacia nos Estados Unidos nunca foi simples. As pessoas que se orgulham da separação entre o Estado e a Igreja nos EUA gostam de citar o tratado de Trípoli assinado em 1797, em que o governo americano comprometeu-se a respeitar a população muçulmana e seus dirigentes do norte da África, como um exemplo da imparcialidade dos EUA no que se refere às diferentes crenças religiosas. No entanto, apesar do tratado de Trípoli, os EUA envolveram-se em duas guerras contra governantes muçulmanos que ameaçaram o comércio marítimo americano no continente africano.

John Foster Dulles, secretário de Estado na década de 1950, durante a Guerra Fria, era descendente de pastores e missionários presbiterianos. Mas suas convicções religiosas nunca influenciaram a condução de sua política externa. O secretário de Estado democrata, John Kerry, que exerceu o cargo de 2013 a 2017, criou o Office of Religion and Global Affairs (RGA), com a finalidade de assessorar o Departamento de Estado nas delicadas questões políticas relacionadas à religião.

Na prática, a política externa de uma potência global não pode ignorar as diferenças religiosas, nem subordinar seus interesses a uma agenda política de um determinado grupo religioso. A habilidade diplomática é fundamental nas relações entre diferentes países e culturas. Apesar de sua rejeição ao islamismo, o presidente Donald Trump em sua visita à Arábia Saudita elogiou “os lugares sagrados de uma das mais importantes religiões do mundo”.

Ainda assim, mesmo em Washington, onde os políticos já não se surpreendem com as decisões inusitadas de um presidente errático, a notícia da escolha de Mike Pompeo, o diretor da CIA, como sucessor de Rex Tillerson no Departamento de Estado, foi recebida com apreensão. Até mesmo na opinião de políticos conservadores, o sectarismo de Pompeo, um evangélico acusado de islamofobia, pode causar tensões na condução da política externa dos EUA.

Nas palavras de Robert D. Kaplan, um analista político e escritor, Pompeo “simboliza uma tendência crescente da influência da religião na política americana e, em especial, em uma vertente do conservadorismo americano”. Um contraste, acrescentou, com a antiga atitude de “líderes políticos com crenças religiosas, mas laicos em suas decisões políticas”.

Como observou Shadi Hamid, pesquisador sênior do Brookings Institution, a islamofobia de Pompeo apoia-se em uma convicção e, portanto, é mais preocupante do que a rejeição “visceral, quase incoerente” dos discursos de Trump durante a campanha eleitoral.

A islamofobia de Pompeo é ainda mais evidente em um videoclipe em que atribui a violência dos atentados terroristas à fé islâmica e à leitura do Alcorão. Segundo Pompeo, os terroristas mulçumanos “continuarão a nos atacar até que se comprove que Jesus Cristo é a única salvação do mundo”.

Após o atentado à maratona de Boston em 2013, Pompeo chamou os muçulmanos de “cúmplices” do terrorismo por se omitirem na condenação dos culpados. Arsalan Iftikhar, escritor, advogado e professor da Universidade de Georgetown, assim como muitos cidadãos americanos muçulmanos, viu nesse comentário um insulto ao esforço da comunidade islâmica em condenar o ataque.

A religião é um fenômeno curioso e imprevisível e, como secretário de Estado, Pompeo enfrentará problemas complexos referentes às diferenças de crenças. Em suas viagens ao Oriente Médio, o vice-presidente Mike Pence, um evangélico fervoroso, confrontou-se com a hostilidade de cristãos na região, para os quais o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel pelos Estados Unidos era um obstáculo à paz. Pompeo enfrentará situações semelhantes em que sua habilidade diplomática será posta à prova.The Economist

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