RISCO DE INFECÇÃO CELULARES

Quase 90% dos celulares em salas cirúrgicas estão contaminados

A maioria dos médicos está ciente das contaminações de celulares por bactérias, segundo o estudo (Foto: Pixabay)

Uma avaliação microbiológica feita pelo cirurgião Cristiano Berardo Carneiro da Cunha, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), verificou que 88% dos celulares de profissionais de saúde que frequentam as salas de cirurgia estavam contaminados. O estudo avaliou 50 aparelhos telefônicos de profissionais que trabalhavam no bloco cirúrgico cardíaco do Real Hospital Português de Beneficência, em Recife (PE).

A prática de cirurgiões, anestesistas e enfermeiros levarem os celulares para a sala de cirurgia não é incomum. Desde que os celulares chegaram ao Brasil, depois se tornando smartphones, os aparelhos se tornaram populares, com o seu uso se tornando mais comum a cada dia, o que não poderia ser diferente com os profissionais da saúde, conforme aponta a pesquisa do cirurgião.

“Esses dispositivos se tornaram onipresentes em diversos ambientes clínicos e cirúrgicos. Eles permitem comunicação social e profissional instantânea, além de terem infindáveis formas de utilização. Em 2013, aplicativos médicos correspondiam a 2,21% de todos os aplicativos existentes, correspondendo a um total de 19.474 produtos”, explicou no estudo.

Porém, o gerente do bloco cirúrgico do Real Hospital Português de Beneficência, Euclides Mertins, garante que há um profissional dedicado ao uso dos aparelhos celulares dentro do bloco cirúrgico para a troca de informações, com o cirurgião não tendo contato depois de efetuar a limpeza das mãos. Além disso, o hospital informou que também é proibida a entrada de adornos como brincos, anéis, relógios e colares nos centros cirúrgicos. No entanto, celulares, óculos e estetoscópios são permitidos.

“A pesquisa é um alerta e esse é o mérito dela. No entanto, não devemos querer banir aparelhos, nem imaginá-los estéreis”, explicou a infectologista Millena Pinheiro, responsável pelo controle de infecção hospitalar do Real Hospital Português de Beneficência, em entrevista à Folha de São Paulo.

As bactérias mais encontradas nos aparelhos celulares foram a Estafilococos coagulase-negativa, sendo verificada em 70,5% dos telefones, a Bacillus subtillis, em 15,9% dos aparelhos avaliados e Micrococcus SP, presentes em 9,1% dos eletrônicos. A Estafilococos coagulase-negativa é uma bactéria comum em infecções de feridas pós-operatórias de cirurgias cardíacas.

“Analisar 50 celulares pode até parecer pouco significativo, mas nós, profissionais de saúde, sabemos que a prática existe e é comum em hospitais”, destacou a infectologista Carla Sakuma, da Sociedade Brasileira de Infectologistas, à Folha de São Paulo.

Segundo a pesquisa do cirurgião, mais de 100 mil cirurgias cardíacas são feitas anualmente no Brasil, com o Real Hospital Português de Beneficência de Recife realizando 1,4 mil destas operações anuais. Em todo o mundo, o problema de infecções pós-operatórias é um dos obstáculos mais comuns durante o período de recuperação após as cirurgias, e inspiram maior atenção de profissionais de saúde e pesquisadores. E, de acordo com o trabalho, diferentes estudos ao redor do planeta já levantaram a possibilidade dos celulares serem um veículo de contaminação.

“Um número convincente de evidências sugere que os dispositivos de comunicação móveis oferecem um reservatório de bactérias causadoras de infecções nosocomiais, dentro da enfermaria do hospital e em áreas clínicas sensíveis, tais como ambientes de sala de cirurgia”, explicou Cristiano Berardo em sua pesquisa.

Além disso, baseando-se em outros estudos, o cirurgião destacou que a maioria dos médicos está ciente das contaminações de celulares por bactérias, mas que poucos se preocupam em limpá-los, assim como seus pacientes. Uma das formas de limpeza para reduzir o número de bactérias em aparelhos celulares, segundo o estudo, é a utilização de gaze embebida em álcool.

“É imperativo que os programas de prevenção e controle de infecção sejam ativamente envolvidos na prestação de cuidados de saúde do trabalhador da área hospitalar, oferecendo orientação e educação em como mitigar o risco de contaminação bacteriana de seus aparelhos móveis”, concluiu o cirurgião.Folha de São Paulo

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