Livre arbítrio e o cérebro


Tudo é possível quando existe vontade?

Um paradoxo surgiu sob escrutínio desde que imagens médicas do cérebro se tornaram comuns nos anos 80. Se trata da aparente contradição entre a natureza mecânica da mente e a impressão de que as pessoas têm controle sobre seus pensamentos e ações.
Michael Gazzaniga, neurocientista da Universidade da Califórnia, em Santa Barbara, acredita que “nós somos agentes responsáveis e podemos ser responsabilizados pelas nossas ações, apesar de vivermos em um universo determinado”.
A ideia de que a mente existe separada do corpo tem uma história longa; Descartes a evocou no século XVII. Mas nos últimos anos a opinião tem de certa forma variado sob a noção de que as pessoas são limitadas pelos seus corpos físicos. Indivíduos podem apresentar uma predisposição para comer compulsivamente ou beber excessivamente, por exemplo, e provavelmente existe uma base genética para explicar estes comportamentos. Mas Gazzaniga acredita que, embora esses estudos sejam úteis, eles dão uma imagem incompleta da verdadeira natureza da humanidade.
Em seu novo livro Quem está no comando? Livre arbítrio e a ciência do cérebro, o neurocientista utiliza estudos feitos em animais para criar o argumento de que o cérebro é formado pelas tarefas que ele executa, usando como exemplo o fato de que os cérebros dos morcegos carnívoros do Novo Mundo são mais parecidos com aqueles dos morcegos carnívoros do Velho Mundo do que com morcegos frutívoros do Novo Mundo, apesar de estes serem seus primos mais próximos.
Mas sua lógica é vacilante. Ele passeia por territórios mais firmes na sua alegação de que as pessoas podem estar absolutamente inconscientes do que está acontecendo em suas mentes, descrevendo as “explicações” post hoc de seus pacientes para suas ações. Ele menciona um paciente cujo “pensamento moral” havia sido perturbado por uma cirurgia para separar os hemisférios do cérebro, e que pensa ser aceitável uma garçonete servir sementes de gergelim para uma pessoa que ela acredita ser alérgica a elas, mas que na verdade não é. E no momento em que o lado do cérebro que não fez o julgamento ouve o que ele acabou de falar, o paciente tenta dar uma nova explicação: ele afirma que sementes de gergelim são muito pequenas e não podem fazer mal a ninguém.
Em uma tentativa de resolver o paradoxo, Gazzaniga localiza a origem da responsabilidade individual externa ao cérebro, como uma consequência do contrato social entre dois ou mais indivíduos. Fazendo isso, ele cuidadosamente remove a base física para comportamentos bons ou maus.
O livro Quem está no comando? é uma exploração abrangente e agradável sobre como a ciência interroga a mente. Sorte dos leitores que gostam de andar às voltas com questões tais como a origem dos pensamentos e se as pessoas têm ou não livre arbítrio, uma vez que Gazzaniga também deixou muito mais a ser escrito sobre o assunto.
Fonte: The Economist

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