ARTE CONGOLESA

Arte congolesa volta a atrair atenção internacional

Os artistas no Congo preferem retratar a vida real (Foto: Angalia Gallery)

Joseph Kinkonda, um dos artistas mais famosos da República Democrática do Congo, vive em um quarto úmido em Ndjili, um bairro miserável de Kinshasa. Uma bandeja com alguns potes de tinta enrolados em um plástico apoia-se no pé da cama. O ar condicionado está quebrado e uma lâmpada pendura-se do teto. Kinkonda, que assina suas obras com o pseudônimo de Chéri Chérin, tem um aspecto tão decrépito e pobre como o quarto onde mora. Suas pernas estão inchadas; uma camisa suja mal cobre seu abdome. No entanto, quando começa a falar, o quarto miserável se enche de vida.

“Eu nasci com o dom do desenho”, disse. “Não aprendi a desenhar. Esse talento estava no meu sangue.” Nascido em 1955, seu pai queria que ele fosse padre e o enviou para um seminário jesuíta. Mas ao perceberem seu talento artístico, os jesuítas o matricularam na Academia de Belas-Artes de Kinshasa. Ao terminar os estudos, Kinkonda começou a pintar enormes murais nas paredes das lojas. No pátio do apartamento, suas pinturas ficam expostas para serem vistas por pessoas que passam a pé pelo lugar. Elas retratam a vida cotidiana do Congo com um estilo de desenho animado e um humor satírico. Um dos quadros mostra um caminhão atolado em uma estrada de lama, com a legenda “esperar até quando?”

A pintura congolesa tem uma história de destaque no mundo das artes. Em 1929, no período colonial belga, uma exposição de aquarelas de Albert Lubaki fez um enorme sucesso no Palais des Beaux-Arts, em Bruxelas. Coco Chanel foi uma grande colecionadora de arte congolesa. Após a independência, durante o governo do ditador Mobutu Sese Seko, que defendia a authenticité africana, os artistas congoleses beneficiaram-se do patrocínio do Estado. Ainda hoje, as esculturas e murais dessa época espalham-se por Kinshasa.

Porém, os últimos anos foram menos generosos. No final da Guerra Fria, o patrocínio de Mobutu terminou. Em 1994, a Academia em Kinshasa fechou quando os estudantes juntaram-se às greves pró-democracia contra o regime. E em 1997, um exército rebelde apoiado por Ruanda e Uganda invadiu o Congo e deu início a uma guerra que ainda não terminou em algumas regiões do país. Mas o movimento artístico continuou apoiado por alguns mecenas como Jean Pigozzi, herdeiro da fábrica de automóveis Simca, que financiou o trabalho de diversos pintores.

Hoje, a arte congolesa está mais uma vez atraindo a atenção de marchands e colecionadores, como Sindika Dokolo, um empresário congolês casado com a angolana Isabel dos Santos,a mulher mais rica da África. O Trust Merchant Bank, um dos maiores bancos do Congo, tem uma galeria de arte luxuosa em sua sede em Kinshasa e patrocina exposições. Os melhores hotéis da cidade exibem obras de artistas congoleses. Em 2015, a Fundação Cartier em Paris promoveu a exposição “Beauté Congo”, na qual exibiu obras de 41 artistas.

Os artistas no Congo preferem retratar a vida real. A arte, disse Papy Malambu, que pinta retratos expressionistas de trabalhadores, é “um espelho para o mundo”. A “arte popular” de Kinkonda concentra-se em cenas de rua. A tragédia da guerra também é um tema que inspira muitos artistas. Freddy Tsimba faz esculturas de peças de metal e cartuchos de bala.

Infelizmente, ao contrário da música, que faz um grande sucesso no exterior, a arte não é um bem cultural rentável. Embora algumas pinturas congolesas tenham sido vendidas por milhares de dólares no exterior, muitos artistas congoleses ainda vivem na pobreza. A maioria trabalha em ateliês em prédios abandonados ou em ruínas. Materiais como tintas e telas são difíceis de encontrar e muitas vezes são trazidos por clientes estrangeiros.

O que o futuro reserva para os artistas da República Democrática do Congo? A situação política é cada vez mais tensa no país. O presidente Joseph Kabila tenta se manter no poder, apesar da forte oposição. Mas como disse Sam Ilus, um dos protegidos de Kinkonda, “sempre há esperança e, por isso, vivemos o amanhã”.The Economist

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